Blog Andando por Aí

O vento indomável da Patagônia

 Patagônia

A Patagônia é uma extensa área de terras planas localizada ao sul da Argentina, comandada por fatores ambientais específicos e severos. Por ter sido, em um passado geológico distante, fundo de mar, mostra frequentemente fósseis de animais marinhos, muita areia e lagoas salgadas e a presença de ventos fortes, modeladores da forma e comportamento do local. Em dias de ventanias, que são muitos, tudo se complica no campo, nas cidades e povoados. O açoite é constante e, em algumas localidades, derruba a internet e outros serviços captados de satélites por antenas, por oscilarem e perderem o sinal. É o elemento ancestral sempre presente, afetando a vida e as tecnologias modernas.

Fogo não é só calor

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O fogo surgiu na terra muito antes de qualquer ser vivo e, possivelmente, foi contemporâneo da água e do vento. Encanta pelo que ele representa na evolução da espécie humana, o único ser vivo que conseguiu domar e utilizar sua energia térmica e luminosa em seu benefício. Aquecer e clarear uma caverna, espantar feras noturnas e cozer o alimento foram os passos iniciais decisivos para que a nossa espécie se diferenciasse das demais, utilizando o potencial deste fabuloso recurso natural que assombrava e calcinava tudo em volta, quando fora de controle. Em algum momento da trajetória evolutiva da humanidade, alguém teve a ideia de associar-se a ele, deixando de temê-lo, como o faziam as demais espécies. Este foi o ponto chave. Se não podes com o teu inimigo, associa-te a ele. Desde então, o fogo virou parceiro do homem e é explorado de inúmeras formas.

Vai uma bergamota aí?

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Começa o frio do inverno e muitos hábitos, sabores e perfumes são emblemáticos e marcam profundamente esta estação. Um destes ícones é o ato de comer uma boa bergamota, seja comprada no mercado ou colhida diretamente do pé. Em um dia frio, com o sol aquecendo a alma, poucas coisas são tão prazerosas como a de se dirigir a um pé carregado, andar em volta à procura de boas frutas, estender a mão, desviar dos espinhos, cuidar se não tem marimbondo e colher uma, duas ou quantas mais couberem nas mãos ou na cesta. Em seguida procurar algum lugar confortável ao sol onde tenha alguma pedra, raiz ou tronco para sentar e começar o denunciante e indiscreto ato de descascar a fruta. Impossível comer uma de forma anônima. No campo, isso não tem o menor problema porque o aroma dos óleos, que exalam, é parte do ambiente e acaba embalando a comilança, sem constrangimentos. Na cidade, cria-se alguma reserva a este ritual, não pelo sabor, mas pelo odor.

Eu sou um papagaio-charão

 papagaio.jpgFoto: Nêmora Pauletti Prestes

A minha vida de papagaio, desde quando a minha memória consegue me contar, começou num ninho em um buraco de árvore velha, bem alto e seguro, onde não entrava chuva nem vento. Depois, vim a perceber a importância destas árvores velhas para nós, porque nelas existem estes buracos no tronco provocados por um galho caído há muito ou por insistentes bicadas de pica-paus atrás de larvas comedoras de madeira. São preciosos estes locais e muito disputados por diversas aves, por isso que não gostamos quando o homem as derruba para lenha, achando que não servem mais para nada. Servem sim, e muito. Cresci recebendo, várias vezes por dia, comida vinda diretamente do bico dos meus pais e logo aprendi que, fora daquele local quente e confortável, havia uma grande variedade de tipos de sementes, frutos e brotos que me eram trazidos. Logo emplumei e comecei a querer espiar o lado de fora. Via aquela luz que entrava e queria saber o que era, mas ainda não conseguia me alçar até a borda. Via meus pais chegarem e saírem muitas vezes por dia naquele estafante trabalho de trazer comida para nós, que éramos três. Quando consegui reunir forças suficientes, alcei o corpo e, como bico e as patas, escalei a parede do ninho até a sua borda. Vi, naquele momento, o mundo lá fora. Era verde e fresco, com muita luz e aromas, sons novos e outras aves diferentes de nós. Fiquei espantado e com medo, mas encantado e motivado a logo poder sair, como os meus pais faziam. Mais um tempo passou e comecei a bater asas para treinar o voo, que me fascinava pela possibilidade de voar. E quando chegou o dia, foi emocionante. Na beira da porta de entrada, treinei um pouco a batida de asas e me joguei no ar praticando o que via os outros fazerem. Fui meio torto, meio sem rumo, e logo percebi que a cauda auxiliava na direção. Voei até um galho próximo e parei. Emocionado e confuso, mas com muito tesão, resolvi empreender um voo mais longo e fui voando, voando, voando e percebi que havia muitos papagaios iguais a mim por todo o lado, alguns mais velhos como meus pais e outros calouros como eu.

Nasce o inverno

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Acordei pelas cinco da madrugada, tudo no breu ainda, rolei entre as cobertas para lá e para cá, minha mulher ainda dormindo sossegadamente no silêncio do quarto e da hora.  Decidi levantar, cansado da cama e com sede do chimarrão, velho comparsa das ideias que já agitam a cabeça, planejando o dia. Depois da higiene, já com a cuia na mão e sentado na sala envidraçada com vista para o leste, vejo o negrume da noite lá fora, com seu pouco movimento, tudo sonolento ainda, tudo dormindo a noite longa. Passa um caminhão de entregas de alguma mercadoria e interrompe o silêncio da rua e aqui dentro o monólogo do rádio informa sobre o tempo e a política. Neste dia 21 de junho de 2018, iniciou o inverno por aqui e ele já mostrou, alguns dias antes, sua fúria fria, gelando o ar, branqueando campos, jardins e telhados e queimando as folhas do nosso manjericão, das pimentas e da ramagem de chuchu.

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O início do inverno traz junto a noite mais longa do ano, quando a alvorada é empurrada para as sete horas e dezessete minutos parecendo que o dia, com todo este frio, se recusa a sair de sua cama escura. O sol desfilará até as dezessete horas e trinta e dois minutos, atirando dez horas de luz sobre a Região das Hortênsias, criando o dia mais curto do ano. Poucos se dão conta deste alongamento da noite e do encurtamento do dia, mas aqui pelas bandas do paralelo 29 Sul, este fenômeno se repete incansavelmente a cada ano, marcando o solstício de inverno. Olho para fora e já vejo uma barra alaranjada no Leste, indicando o sol a caminho. Pessoas começam a circular pela rua, agasalhadas com mantas, gorros e casacos pesados. Quem sai cedo enfrenta o frio da madrugada, aquele desconforto térmico que desaparece pouco depois do sol surgir e vencer a friagem. Motoqueiros entregam jornais, guardas trocam de turno, carros particulares disparam, já com pressa, para cumprir suas tarefas do novo dia.

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Bem perto do nascer do sol, ainda com aquela luz baça da alvorada, vejo uma corruíra andando rápida e atenta em cima do muro e percebo nela apenas duas preocupações: cuidar para não ser apanhada pelo gato, sempre por ali, e encontrar insetos, aranhas e qualquer outro pequeno animal oculto em frestas e no meio das ramagens do jardim. Esta pequena ave nativa, uma das menores, agora está silenciosa, emitindo apenas pequenos ruídos quase imperceptíveis, ao contrário da primavera e verão quando canta, sem parar, melodias espetaculares.

O alaranjado para o lado leste aumenta e surge um ponto de luz intensa no horizonte, indicando o início oficial do dia. O lento giro da terra vai expondo o sul da América do Sul ao aconchego do calor e da luz, tão vitais para a vida por aqui.  Começa o dia curto do ano da mesma forma como iniciou ontem e certamente se repetirá amanhã, mas o que me faz escrever hoje sobre isso é a vontade de expressar o quanto aprecio estes eventos naturais vistos diariamente na natureza. Gosto de ver a noite se recolhendo, já cansada de escurecer a terra, e ver o dia nascendo com aquele vigor e decisão de espantar o escuro e tudo iluminar.

Renovação em ciclos é o grande mantra da natureza. Tudo gira e se repete num sem fim de eventos, uns intensos, outros discretos, mas sempre pulsando como se fosse movido por um gigantesco e invisível coração sempre a pulsar, mantendo as estações, as chuvas, os ventos, as secas, as florestas, os bichos, os dias, as noites e a vida, enfim.

Nasce outro inverno

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Acordei pelas cinco da madrugada, tudo no breu ainda, rolei entre as cobertas para lá e para cá, minha mulher ainda dormindo sossegadamente no silêncio do quarto e da hora.  Decidi levantar, cansado da cama e com sede do chimarrão, velho comparsa das ideias que já agitam a cabeça, planejando o dia. Depois da higiene, já com a cuia na mão e sentado na sala envidraçada com vista para o leste, vejo o negrume da noite lá fora, com seu pouco movimento, tudo sonolento ainda, tudo dormindo a noite longa. Passa um caminhão de entregas de alguma mercadoria e interrompe o silêncio da rua e aqui dentro o monólogo do rádio informa sobre o tempo e a política. Neste dia 21 de junho de 2018, iniciou o inverno por aqui e ele já mostrou, alguns dias antes, sua fúria fria, gelando o ar, branqueando campos, jardins e telhados e queimando as folhas do nosso manjericão, das pimentas e da ramagem de chuchu.

Gira, girassol

girassol

Originário da América do Norte, o girassol espalhou-se pelo mundo a partir do século XV, quando os conquistadores europeus o conheceram e levaram sementes para a Europa e, de lá, para a Ásia e África para ser cultivado nas incipientes colônias espanholas, portuguesas e inglesas. Os Incas e outros povos nativos da América Central e do Norte, há tempos conheciam e cultivavam o girassol, do qual faziam uma farinha utilizada na alimentação. Esta planta encantou os povos do outro lado do mundo, assim como o milho e a batata, ambas originárias das Américas, e rapidamente se transformou em uma planta de grande valor comercial. Girar para procurar o sol é uma estratégia utilizada por muitas plantas. A cada segundo do dia, a posição da Terra, em relação ao astro-rei, vai mudando de leste a oeste numa trajetória ditada pela rotação do planeta, originando o dia e a noite.

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