Blog Andando por Aí
Sinais
A natureza tem suas formas e maneiras de mandar mensagens indicando a chegada, o andamento ou o término de uma estação. Dias curtos, frios e noites longas; inverno. Dias longos, quentes e noites mais curtas: verão. Sabiá-laranjeira cantando de madrugada: primavera. Floração do manacá-da-serra: outono. Os exemplos aqui citados são apenas alguns que ocorrem aqui na minha cidade, localizada no nosso hemisfério sul e na latitude de 29 graus, ou seja, bem longe do equador. Em cada latitude, mais alta ou mais baixa, as manifestações da natureza mudam e os indicadores também. No equador, por exemplo, os dias e as noites são sempre do mesmo tamanho, não importando a época do ano, e esta variação não tem a menor serventia para diferenciar lá a mudança de estações.
Aqui em Canela, na Serra Gaúcha, estamos entrando na reta final do verão e já sinto um progressivo encurtamento do dia, principalmente aqueles que, como eu, costumam se levantar pelas cinco horas, olhara para a barra do dia e perceber que a noite cada vez mais segura o início do dia. Os sabiás estão calados e mais interessados em finalizar os ensinamentos aos seus filhotes de como encontrar minhocas nos gramados e escapar dos gatos e gaviões. Andando pelas ruas percebo o progressivo aumento da floração dos manacás-da-serra, esta espécie nativa de grande valor paisagístico, e que também é chamada de quaresmeira, apesar desta ser uma outra espécie semelhante.
Também é muito evidente a floração da chuva-de-ouro, outra espécie nativa do Brasil e que, neste final de verão, veste-se de um amarelo intenso salpicando o chão com suas pequenas pétalas parecendo flocos de ouro amarelando o céu e a terra. As abelhas apreciam muito estas floradas e se refestelam em busca de néctar, polinizando e garantindo o mel e as sementes futuras. A maturação da pimenta-rosa é outro testemunho do final do verão, e pode ser vista por todos os lados.
Vejo o final do ciclo das flores de hortênsias parecendo que estão aborrecidas pelo final do verão, época do seu esplendor de beleza e cores, deixando de ser o foco de atração de milhares de turistas. As cachopas mortas com sua coloração marrom ficam ali dependuradas e murchas como se estivessem assistindo o ciclo natural desfilando a sua frente, certamente com uma sutil inveja dos manacás e chuva-de-ouro que agora são as alegorias do momento. Cachos de flores discretas de erva-de-passarinho, esta planta parasita que habita os galhos e troncos de outras árvores, também são vistas neste período de transição verão-outono oferecendo um banquete para os insetos.
O vinho branco gelado vai sendo lentamente substituído pelo vinho tinto na temperatura ambiente e a lenha para o fogão vai sendo armazenada. Grimpas se acumulam nos jardins e praças e o prenúncio do outono com seus dias claros e amenos me agrada, ainda mais sabendo que outros sinais estão se mostrando no horizonte na forma de pinhões e cogumelos, que estimulam a silenciosas caçadas nas matas da região. Salve o outono com seus sinais.
