Blog Andando por Aí

Cinza ou chama?

O Monte Negro ao fundo, o verdadeiro Topo do Rio Grande. Logo estarei de volta....

Escrevo esta crônica quando já se passaram 22 dias da minha saída do hospital da UNIMED de Caxias do Sul, onde passei 15 dias internado lutando contra o COVID19, entre UTI e período de recuperação em um quarto, até ter alta e voltar para casa. Quando cheguei, trazido pelo meu filho, não conseguia ficar de pé, tal a fraqueza a que meu corpo foi submetido durante os dez dias de UTI. Iniciei então um processo de recuperação física com a orientação segura e profissional de um fisioterapeuta que já me devolveu todos os movimentos e apenas sinto ainda falta de resistência. Mas no mais, sigo peleando e a cada dia conquistando mais e mais espaço neste mundão velho, que me quis mais um pouco aqui.

Andar flertando com a morte foi uma das emoções mais fortes que já senti. Caminhar na linha estreita que separa a chama da cinza, olhar para uma e depois para a outra e optar pela chama me trouxe forças para não me entregar. Esta força veio da minha vontade de viver, de rever os meus e também proveniente de vários lugares em forma de correntes de energia produzida por orações e pensamentos positivos que me enviaram de muitos lugares e que me ajudaram a não cair nas cinzas. A morte não tem rosto, gosto ou cor. Pelo menos eu não vi nada disso quando estava por ali. Pareceu-me um mundo de sombras e silêncio, um lugar que não me agradou estar, já que gosto muito da natureza com seus sons, cores e vibrações, vento e chuva, lua e sol, cores e cheiros.

Minha cabeça mudou um pouco e parece que o tempo agora corre mais rápido, parecendo mesmo que está com pressa. Isto me diz que eu devo acelerar as minhas ações para fazer o que ainda tenho pela frente, que uma chance de voltar para terminar me foi dada e, portanto, devo me dedicar ao trabalho de finalizar a publicação de livros e retomar a formação de grupos para que eu possa levar pessoas interessadas em conhecer o espetáculo geográfico, histórico e cultural do Topo do Rio Grande e do Desnível dos Rios, em São José dos Ausentes. Acredito que em outubro ou novembro, já estarei apto a recomeçar o trabalho que mais gosto e poder socializar o espetáculo da natureza destes locais muito especiais do nosso Rio Grande.

Ando mais em casa fazendo poucas coisas, lendo bastante e tentando escrever, o que só agora consegui, sendo este o primeiro texto que escrevo depois de retornar do hospital. Já tenho autonomia para tudo e isso me alegra, apesar de cansar com muita facilidade. Sento, caminho, deito, como, leio, durmo, faço fogo no fogão, podo alguma árvore frutífera, arrumo a horta, abraço e converso com minha neta e meus filhos, namoro a minha mulher e penso muito nesta segunda chance que ganhei. Meu médico me disse – se tu fosses um gato, terias utilizado seis das setes vidas nestes 10 dias de UTI, e isto vale mais do que ouro para mim. Não devo desperdiçar tempo e energia com coisas inúteis, mas focar à frente e agradecer as correntes de amigos, conhecidos e desconhecidos que me ajudaram a estar aqui. Valeu galera, devo isto a vocês.  

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