Blog Andando por Aí

Revirando arquivos

Rota 40, uma estrada icônica

De volta a Canela, depois de um refúgio de dez dias pelas bordas do cânion Monte Negro sigo, como todos, no aguardo de uma melhora no quadro desta concentração doméstica a que estamos submetidos. Através dos meus arquivos resolvi rever algumas viagens que empreendi pela América do Sul e escolhi a última gira que fiz em direção ao Deserto do Atacama, no Chile. Na ida, junto com meu primo argentino Mário Cáceres, andamos por um trecho longo da Ruta 40, uma estrada que liga a Argentina de norte a sul, costeando sempre a cordilheira dos Andes. Ali vi coisas que jamais imaginei existirem, apesar de saber de alguns detalhes por leituras e fotos.

 

Isolamento e sobrevivência

Numa localidade chamada Los Canares, no vale do rio Calchaquíes, em Salta – norte argentino, encontramos uma família de nativos vivendo neste deserto monocromático e austero. Paramos para uma prosa e, assim que descemos do carro, a mulher correu para dentro do rancho, assustada. Falamos um pouco com o homem e aproveitei para uma recorrida no ambiente. Percebi o quanto é dura a vida no deserto, onde cada graveto de vegetação vira a preciosa lenha que aquece a comida e prepara o pão.

 

Adaptações ao que se tem

Forno de barro, fogão improvisado na rua, já que a chuva é rara, e os objetos de apoio são, na sua maioria, feitos de madeira, pedra ou barro. Vida dura, simples, de sobrevivência. O pouco que permite manter a vida é o suficiente. Não há desperdício, luxo ou supérfluo. Há um ajuste apertado entre o necessário e o disponível.  

 

Sobrevivência

Perguntamos o que cozinhavam naquele fogão improvisado ali no chão e ele nos respondeu que era um cabeça de ovelha fervida e que seria o almoço da família, uma iguaria para o lugar. Fiquei pensando que quando estivemos em um restaurante na Patagônia, mais ao sul, apreciamos muito os assados de cordeiro, todos expostos em vitrines sendo preparados inteiros, abertos e sem cabeça. Corpo para uns, cabeça para outros. Nada se perde, tudo se aproveita.

 

Vida no deserto

Saindo do pequeno rancho e seguindo para o norte pela mesmo Ruta 40, descortinou-se o rio Calchaquíes, que dá nome ao vale da região. Este nome é derivado do líder de um dos grupos nativos que habitavam a região, e que significa “muito bravo, muito valente”. Alheio a origem do nome, fiquei contemplando o espetáculo dos meandros que se abriam nas areias e seixos do leito, mostrando o espetáculo de vida que medra nas proximidades do curso de água. O verde aparece, a vida se mantém e mostra que na natureza não existe lugar impróprio, mas sim organismos que se adaptam ao que o ambiente oferece, assim como me mostrou aquela família vivendo na espera de uma cabeça de ovelha sendo fervida.

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