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Professor

A mais recente aula de campo que ministrei. Este é o meu elemento

Nunca tinha pensado em ser professor até o dia em que passei no vestibular para Biologia, em julho de 1973, lá na PUC, ainda com seus velhos prédios e muito ue ministrei. Este é o meu elementoespaço no campus do final da Av. Ipiranga, em Porto Alegre. Naquela época os carros ainda entravam nas ruelas do Campus e estacionavam onde fosse possível. As aulas começariam em agosto e ainda em julho um amigo meu, que cursava Física na mesma instituição, ofereceu-me uma vaga para dar aulas de ciências. Encarei na hora e fui com ele uma primeira vez para conhecer o lugar, a escola e a turma. Era na Escola Tolentino Maia localizada em uma vila de Viamão e o curso era a noite, para adultos. Pegamos o ônibus na Av. Bento Gonçalves e seguimos até a entrada da vila onde outro ônibus nos aguardava para seguir até a escola, localizada há alguns quilômetros daquele ponto. Era uma escola simples com alunos de diversas idades e com um mesmo objetivo: melhorar de vida através da aprendizagem. Tinha como alunos uma grande diversidade de mentes e idades, como pedreiro, fotógrafo, adolescentes e a maioria sem emprego e ofício. Estudei como louco o conteúdo de ciências e lá me fui encarar a nova profissão. Na frente do quadro havia um buraco no assoalho mostrando o escuro do chão logo abaixo, e eu tinha sempre que manter um olho no chão e outra no quadro para não enfiar ali um pé e pagar mico na frente dos alunos.

Tirando dúvidas de dois alunos que, infelizmente, não lembro mais os nomes. 

Depois de um ano passei para escolas mais próximas do meu endereço em Porto Alegre, como o Colégio Glória, Curso Pré-vestibular Mauá, Colégio Anchieta, Colégio João XXIII e segui aprendendo, ensinando e me apaixonando pelo ofício, cada ano mais. Isto me transformou em um professor de fato, mesmo antes do término do curso e, quando me formei em 1977, fui convidado para ingressar no quadro de professores do curso de Biologia da mesma PUC que me ensinou e me formou, o que me exigiu um esforço incomum de estudo em relação ao tipo de ensino e ao conteúdo específico que me desafiava. Por força de ter ingressado no Mestrado na UFRGS ainda no mesmo ano da formatura, tive que abandonar os colégios e me dedicar ao novo curso. Da PUC vim para a UCS, aqui de Canela e de Bento Gonçalves, agora já morando novamente na minha terra natal e segui sempre me relacionando com alunos e com a natureza. Desta experiência toda surgiu o projeto Loboguará que até hoje segue seu objetivo principal, que é o de reaproximar os alunos com a realidade da natureza.

Fico pensando se hoje fosse um julho de 1973 e eu tivesse novamente a oportunidade de começar um ofício, eu não vacilaria um minuto e novamente me entregaria ao prazer de conhecer mais profundamente a natureza e mostrar seus detalhes a quem interessado estivesse. Profissão dura, desgastante, cheia de surpresas e alegrias com deve ser com qualquer outra que se escolha como baliza profissional para ser seguida na vida. Hoje, por conta de minha aposentadoria, não ensino mais em sala de aula, mas vejo meus colegas em atividade e sinto alguma apreensão ao ver como a profissão de professor ficou deslustrada ao longo destas décadas. Vejo, em algumas escolas, uma inversão de valores e de conceitos onde alunos não respeitam professores, onde pais pressionam a direção e os educadores quando lhes são mostrados os tortuosos caminhos de alguns alunos. Fico triste com o que vejo e feliz em saber que mesmo com todos estes problemas, há aqueles abnegados colegas que seguem sua sina de educar para criar uma geração mais humana, respeitadora, educada e com condições de seguir uma vida mais saudável e sem a necessidade de serem cabresteados pelos tentos fortes da ignorância. Sonho como um futuro melhor para a ciência e para aqueles abnegados que se esforçam para torna-la palatável e interessante para seus alunos.  Um saludo a todos os meus colegas e amigos professores pelo dia 15 último, uma data que já foi comemorada com mais alegria, garbo e orgulho.

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