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A vida nas árvores

Líquen  Barba-de-velho carregado de água após uma chuva de verão

Viver pendurado nos galhos de árvores, cercas, muros de pedra ou em fios de energia elétrica não é para qualquer um. A vida nestes ambientes exige que se tenha algumas adaptações especiais, como a capacidade se prender firmemente para não ser arrancado pelo vento e de conseguir absorver do ar a água de que necessita. Pense em você morando em cima de uma árvore e que, por algum motivo, não posso descer ao solo. Vais depender 100% da água da chuva. Ainda assim, quando chover, terás que pegar esta água e armazená-la de alguma forma para os momentos de seca. Como fazer isso? Não podemos, simplesmente porque não temos adaptações para isso. Evoluímos no mundo biológico tendo água a nossa disposição nos rios, lagos e nascentes. É só irmos lá e beber. Já outros organismos se adaptaram à vida empoleirada nas árvores, aproveitando a solidez dos galhos e troncos para ali se fixarem e viverem mais perto da luz e da chuva, coisa impossível de se achar no solo escuro da floresta.

Trama de líquen Barba-de-velho com as gotas de água capturadas da cerração

Muitas espécies de líquens, musgos, bromélias e outras ervas se adaptaram de formas diferentes a esta vida aérea e se mantém assim por milhares de anos, simplesmente criando reservatórios de água entre suas folhas, no caso das bromélias, ou absorvendo diretamente a água através de suas células de revestimento, que funcionam como esponjas que se entumecem de água durante uma chuva ou um dia de forte cerração. Quando a chuva se recusa a aparecer por longos períodos, estes organismos malabaristas se ressentem e utilizam mecanismos diversos para economia de água, assim como fazemos em períodos de seca na cidade.  

Viver assim tem vantagens e desvantagens, como tudo na vida. A vantagem de viver empoleirado é que o solo e seus perigos está longe; o vento circula mais e melhor acima do solo e entre os galhos altos; a luz do sol, fonte fundamental para a fotossíntese, é mais facilmente encontrada. As desvantagens também se enumeram: sem acesso ao solo, é impossível retirar água do seu interior, dependendo apenas da chuva e da umidade; o organismo não pode crescer muito, devendo ser de pequeno porte para poder se manter nos galhos e troncos das árvores; quando a árvore, ou algum de seus galhos caem, estes organismos acabam morrendo também devido a impossibilidade de viverem na sombra do chão da floresta.

Assim é a vida. Vantagens e desvantagens andam de mãos dadas em todas as formas de vida no planeta, não havendo aquele negócio de só vantagens, ou só desvantagens. O custo do bem viver reside na habilidade em equilibrar estas duas forças antagônicas.

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