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Revirando arquivos de viagens

Uma janela para o deserto

Espiar o deserto através da janela de uma tapera, construída há muito com blocos de barro e pedra, tem um sabor todo especial. Os grandes cactos que se exibem no vale a frente, parecem sentinelas da Cordilheira dos Andes ao fundo, muito distante, encantadora e ameaçadora que forma uma verdadeira muralha de rochas separando a Argentina, do lado de cá e o Chile, do lado de lá.

 

O sol que torra também ilumina

Num trecho da viagem entre Salta e Passo Jama, na fronteira da Argentina com o Chile, vi esta casa de moradores nativos que são criadores de cabras. Os potreiros cercados de pedras e as casas de barro mostram a dureza da vida por aqui. Alheios a tudo isso e acostumado ao rigor, uma placa solar foi instalada na casinha para garantir luz e algum conforto a estes rudes homens e mulheres que vivem no deserto dependendo de suas cabras para subsistência. É a tecnologia e o primitivismo convivendo lado a lado, sem nenhum problema.

 

Cachorro parceiro ouvindo Vivaldi

Na praça central de São Pedro do Atacama flagrei este músico solitário interpretando em seu violino, uma música de Vivaldi – O verão, da clássica obra composta em 1723 - As quatro estações. Seu cachorro, muito parceiro, acompanhava meio sonolento mais o movimento de pessoas do que o arco do violino. O som que dali saia me fez parar e sugar aquela música e tentei misturar Vivaldi com o deserto em volta e senti que a música é mesmo universal e não conhece fronteiras. Os acordes se harmonizavam com a hora, a luz e o silêncio da praça e ali mais longe, o deserto certamente estava curtindo aquela belíssima música.

 

Cores no monocromático Atacama

Na pequena cidade de São Pedro do Atacama, um verdadeiro oásis no coração do deserto mais seco do mundo – o Atacama, desfilam línguas, cores, hábitos e interesses dos quatro quadrantes do planeta. É uma verdadeira babel que se imiscui pelas ruelas, lojas e restaurantes da pequena cidade. Quase todas as casas são da cor da terra, parecendo que querem se camuflar, mas alguns tem a arte no sangue e conseguem quebrar a monocromia com uma simples adição de um contraste, mesmo que seja apenas nas aberturas. O efeito é fantástico.

 

Aproveitando o melhor do deserto

O norte do Chile é um deserto dos mais inóspitos que existem e andamos nele por muitas horas sem ver absolutamente nenhuma sombra de vida, seja vegetal ou animal. Um lugar lúgubre, seco, áspero e letal. Ficar perdido aqui é um atestado de morte certa, a menos que se tenha recursos para enfrentar dias e dias de isolamento. Mas mesmo neste lugar estéril é possível extrair algo positivo e isso é feito com o aproveitamento do vento seco que sopra direto do Oceano Pacífico para geração de energia elétrica. Como o sol é outro fator constante por aqui, mais adiante num grande vale, encontramos uma gigantesca usina de energia solar, com aquele mar de placas coletoras orientadas para o norte. Na verdade, não há lugar ruim se soubermos aproveitar o que dele emana, mesmo que seja somente vento e sol.

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