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A luz boa do dia

 Luz

A luz oferecida pelo sol, no transcorrer de um dia, varia de intensidade, cor e temperatura, criando cenários diferentes para o mesmo local à medida que as horas avançam. Bem cedo, ou pouco antes do ocaso, a luz fraca cria sombras longas na paisagem, parecendo querer, por ser ligeira, aumentar as coisas para compensar sua timidez. À medida que a terra gira e o sol vai atingindo outras posições, as sombras vão diminuindo até o meio-dia para, em seguida, alongarem-se novamente para o outro lado, como se estivesse brincando de balanço. Nos dois extremos do dia – logo após o nascer e pouco antes do pôr do sol, temos uma luz quente – não quente de calor, mas quente de cor (coisa de fotógrafo!), e são estas poucas horas do dia as mais indicadas para se apreciar uma paisagem e, no meu caso, também para fotografar. As coisas têm mais sombra, mais cores alaranjadas e vermelhas, mais definição. Gosto muito destes dois extremos do dia não só para fotografar, mas principalmente para contemplar e ver as coisas acontecendo e mudando no cenário a frente.

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Se for pela manhã há, quase sempre, um denso e pesado orvalho dependurado sob a forma de gotas brilhantes pela vegetação dos campos, molhando quem andar por ele nestas horas tempranas. Este orvalho pode ser visto como pérolas que ornamentam a vegetação quando a primeira luz atinge as gotas, fracionando a luz em suas cores e exibindo um conjunto de pequenas luzes que piscam e somem. Estas gotas parecem temer a luz do sol, já que que logo se evolam, tão efêmeras que são.

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Com o primeiro sol banhando a paisagem, as coisas readquirem a cor, saindo daquela monocromia que antecede a luz. É como ter na frente uma foto em preto e branco que lentamente vai, de forma mágica e imperceptível, colorindo cada folha, cada árvore, cada bicho, cada caminho, cada pedra com o preciso e certeiro pincel formado pelos raios solares. O banho de luz deixa o cenário alegre e sonoro, propício para a fruição e para registros fotográficos. Passam as horas e vem a forte luz do meio dia, que cega, achata e nivela as coisas, reduzindo suas sombras e tornando a paisagem menos agradável, mais quente em temperatura e menos instigante para uma caminhada. Hora de parar na sombra de um arroio, comer pão, linguiça e queijo e molhar o corpo.

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Já do meio para o final da tarde não há mais o tapete molhado de orvalho visto e sentido na manhã, mas sim um gramado verde amarelado, seco e cansado de passar o dia ardendo no sol. A cor desprendida pela paisagem agrada muito, colorindo e dourando as formas e dando contornos agradáveis a tudo que descansa pelo campo, já exaustos do longo dia. Falta, nesta hora na vegetação do campo, o reflexo do orvalho que há muito sumiu, puxado que foi pelo calor dos primeiros raios de sol. As araucárias isoladas no campo se destacam e suas sombras parecem duplicatas exatas de cada árvore, com a diferença que são rastejantes e se esticam pelo campo até sumirem na noite. As últimas horas de luz do dia, assim como as primeiras, são sempre as melhores, as mais coloridas e as mais agradáveis de se estar, visto que o calor não é severo e o sol já não tem a força de tudo queimar e cegar. No final do dia as brisas são generosas e os sons e as cores são de recolhimento, de encerramento de um ato, de preparação para a noite.

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