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Churrasco no mato
O churrasco gaudério nasceu no campo, nos capões de mata onde os tropeiros e gaúchos errantes preparavam sua comida. Espeto de pau, carne recém carneada de alguma rês ou ovelha, sal grosso e brasa de alguma lenha que por ali havia. Assim era o churrasco da gauchada que vagava ou levava tropas de um lado a outro no nosso incipiente Rio Grande. O hábito se disseminou e hoje o churrasco adquiriu novos patamares, sendo o centro das atenções de eventos de médio e grande porte. Assar todos os tipos de carnes, embutidos e inúmeras variações com morangas, pimentões, abobrinhas, tomates e mais o que possa combinar com os assados, virou uma atração. A costela, assada com muito vagar, ganhou status e disputa posição com a picanha e a maminha.
Aqui na Estância Tio Tonho, em São José dos Ausentes, naqueles dias em que o tempo colabora com sol e pouco vento, é oferecido aos hóspedes um churrasco de mato, muito próximo daquele tipo feito pelos ancestrais que por estes campos andavam. Com poucas adaptações - espeto de metal e carvão misturado com lenha, segue o ritual secular de preparar um assado num ambiente sem paredes, com grama e muitas árvores de cambuim e casca-de-anta filtrando o sol forte e desviando o vento. É neste local que o Afonso Vieira, o Fonso, sua esposa Antonia, a Toninha e os filhos Pablo e Letícia proporcionam aos visitantes um almoço campeiro com forte apelo atávico. Carne de boi e cordeiros dos campos dali mesmo, com aquele gosto único de uma carne que foi plasmada a partir de pasto nativo de altitude, imprime um diferencial que, somado ao esmero e dedicação do assador, fazem deste churrasco de mato uma experiência única.
Todos sentados em meio as árvores, encantados com as orquídeas vermelhas que enfeitam araucárias e cambuins, ouvindo as gralhas e os carrapateiros ou vendo as maravilhas do cânion da Coxilha, logo a frente, a carne assada vai circulando aos pedaços, naquele ponto certo de suculência, podendo ser escorada com uma boa maionese caseira e alguma saladas verdes para equilibrar. Cerveja, água, vinho e espumantes podem acompanhar a festa, dependendo dos comensais e seus gostos. Aos poucos, a churrasqueira vai se livrando dos espetos e as carnes vão enchendo os pratos dos famintos apreciadores que, há pouco, chegaram de uma cavalgada pelas bordas dos cânions Monte Negro e Cruzinha. A borda do mato vira um estacionamento de cavalos e cada um, a seu modo e necessidade, vão procurando uma sombra para o descanso da jornada da manhã.
Depois das carnes e saladas, vem o arremate com as doçuras da dona Antônia, que pode ser rapadurinhas de leite ou de amendoim, um chico balanceado ou um pudim de iogurte. Assim se encerra esta atividade de cavalgada e churrasco ne mato oferecida aqui pelo pessoal da Estância Tio Tonho. Todos satisfeitos, muitas fotos e conversa sobre o assado e a cavalgada, voltam a cavalo para a estância. A autenticidade e rusticidade podem promover experiências gastronômicas incríveis, inesquecíveis mesmo. Experimente, mesmo que você não cavalgue, mas goste de um bom churrasco de mato.
