Blog Andando por Aí

O vento, o sal e a história

 sal1Fachada com marcos de porta feitos em granito

Há um tempo atrás estive em São José do Norte, no sul do Estado, naquela estreita faixa de areia ladeada pelo oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos. Local de planura, história, água, vento e sal ali se instalou, a partir de 1725, um Posto de Vigilância para garantir a posse e o domínio da entrada da lagoa. Surgia ali uma povoação pioneira no início da colonização do Rio Grande do Sul, ora dominada pelos portugueses, ora pelos espanhóis. Ponto estratégico, por ficar no lado norte da barra da lagoa, por onde era escoada a produção agrícola e pecuária dos primórdios da formação do território gaúcho. No lado sul desta mesma barra, formou-se outro povoado que se transformaria no município de Rio Grande. Assim, frente a frente, os dois núcleos urbanos assistiam ao entrar e sair de barcos e navios trazendo e levando coisas e gentes para o interior do insipiente Continente. Andar pelas ruelas centrais de São José do Norte é andar pela história, por um passado não muito distante e que assistiu guerras e revoltas, saques e ataques de todos os tipos no início da sua implantação.

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Porto da cidade tendo ao fundo os prédios de Rio Grande

Vejo algumas fachadas carcomidas pela maresia e salinidade do mar próximo e constato ali o trabalho e a arte de pessoas que fincaram raízes e criaram famílias, comércios e biografias. Nas paredes de alguns prédios, agora tombados, estão impressos detalhes de uma época de dificuldades, pioneirismo e desafios. Os materiais utilizados mostram o esforço e a dificuldade de construir num lugar dominado pela areia. A rocha granito, vista em algumas edificações, indica que vieram de longe, possivelmente dos morros próximos de Porto Alegre, assim como grande parte dos blocos que formaram os moles da barra. Trazer pedra de locais distantes em uma época que não existiam máquinas, exigiu muito esforço e trabalho braçal, mas como toda a edificação feita com rochas, o tempo passa e elas ficam para contar a história. 

sal2Rua central com prédios preservdos

O primeiro farol, denominado de Atalaia, foi construído em 1820 e teve, como um dos materiais utilizados, as conchas de sambaquis de algum sítio arqueológico local. No topo, acendiam uma fogueira para sinalizar aos navios a entrada da barra. Tempos difíceis moldaram os pioneiros que foram temperados pelo rigor dos elementos que, até hoje, atuam carcomendo os metais para mostrar que são eles, e ninguém mais, que dominam o local. Índios, portugueses, espanhóis, revoluções, invasões, domínios, edificações e sofrimento estão impressos nas fachadas tristes de casas antigas, contando que sempre tem algo mais perene que a história: o vento e o sal.

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Detalhe de uma janela sendo consumida pelo tempo

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Farol Atalaia, o primeiro a ser construído.

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