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Os sinais da primavera

Cravo-do-mato em plena floração neste início de primavera

 O cheiro doce e levemente cítrico das flores de uma laranjeira e o tom aveludado de perfume adocicado de um jasmim invadem minhas narinas em uma onda invisível, silenciosa e eficiente para dizer que a primavera está chegando. A melodia singela do canto do tico-tico, com notas descendentes fáceis de identificar, anunciam que, mesmo sem um calendário impresso, os bichos e as plantas sabem mesmo antes de nós que a estação da alegria, da cantoria, do acasalamento, dos cheiros e cores, dos frutos e dos dias mais quentes está chegando. Tudo é festa na natureza.

Como eles sabem? Quem lhes diz sobre ser fim de setembro, quase outubro? Eles não têm a referência de um calendário com nomes e números mas tem outras formas de serem informados das mudanças que estão ocorrendo. A aumento da temperatura é uma destas mensageiras que despertar na fauna e flora o estímulo para um novo ciclo. Outro, menos perceptível, é o aumento no número de horas do dia, cada vez maior e com mais luz a estimular folhas e retinas. Mais horas de sol, um dia após o outro estimula a hipófise, uma glândula pequena e escondida na base do cérebro dos vertebrados, que libera um hormônio sexual e cria uma atmosfera de orgia geral na natureza. A busca de parceiros parece ser a mais evidente para nós, uma vez que os cantos dos anfíbios e das aves são bem perceptíveis e informam que os machos, cantores na maioria das vezes, fazem isso para impressionar as fêmeas e formarem parcerias para o acasalamento. É como uma “cantada”, na verdadeira acepção da palavra. Aquele que canta melhor e impressiona mais a fêmea, ganha a parada.

As plantas sentem o estímulo dos dias mais longos e da temperatura média maior e também liberam seus hormônios que induzem ou a produção de folhas novas, como o cedro, as paineiras, plátanos e uva-do-japão, ou emitem primeiro suas flores, para se tornarem mais visíveis e assim atrair mais insetos para a polinização, como fazem a magnólia e o ipê-da-serra. A atmosfera do início da primavera é de alegria, de renovação e de acasalamento, seja entre plantas, seja entre animais. Mais um ou dois meses os lagartos e serpentes devem sair do seu torpor invernal e abandonarem as tocas para mais uma jornada de busca de alimentação, parceiro para acasalamento e defesa de território. Os quero-queros já estão se agitando, em revoadas e rituais de acasalamento, sempre barulhentos.

Cantos, cores e cheiros podem ser os verdadeiros símbolos da primavera, adicionados pelo calor maior e pelos belos dias de sol que vão se alongando até o começo do verão, quando começam novamente a diminuir e avisar a todos que um novo inverno não tardo. Assim a natureza, com seus códigos e procedimentos, vai fazendo seu almanaque a que todos obedecem de forma incondicional. Como não tem calendário impresso, ela se dá ao luxo de começar uma estação até um mês antes dos nossos padrões estabelecidos, assim como pode terminar depois, ou nem começar. As regras da natureza são outras.

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