Blog Andando por Aí

Taipa de pedras

taipa3

Uma taipa de pedras é uma cerca feita apenas com pedras empilhadas. Há cem, duzentos ou trezentos anos atrás, as taipas eram as cercas comuns nas fazendas e foram erguidas por índios, negros e peões de fazendas. Elas riscam o chão dos campos e matas do Rio Grande do Sul parecendo longas serpentes seguindo em direção ao horizonte, desaparecendo em alguma canhada e ressurgindo novamente numa coxilha, parecendo que brinca de esconde-esconde com o observador. Hoje há remanescentes destas obras em vários lugares, principalmente nos municípios dos Campos de Cima da Serra, como São Francisco de Paula, Cambará do Sul e São José dos Ausentes. Era através delas que, em alguns trechos, passavam as tropas de mulas rumo a São Paulo, em longos corredores murados tendo, em pontos estratégicos, os currais para descanso das tropas, igualmente feitos de pedras.

taipa

Se observarmos bem uma taipa, podemos ver alguns detalhes curiosos. Ela tem a base mais larga do que o topo, tendo a forma de uma pirâmide, quando vista de topo. Esta forma anula ou reduz muito a ação da gravidade, evitando que a estrutura desmorone. Pedras maiores embaixo e o tamanho vai diminuindo em direção ao topo criando-se uma malha de pedras equilibradas e entrelaçadas como se elas se abraçassem para não cair. Encaixadas umas nas outras de maneira precisa, formam um quadro abstrato que pode ser visto ao longo de todo seu comprimento, já que não há uma pedra igual à outra. A cada metro quadrado de taipa, um padrão de formas, ranhuras, reentrâncias e saliências. Musgos, liquens e alguma gramínea fazem a composição de cores para compor o quadro. Na diversidade de formas e encaixes das pedras cria-se uma unidade que se torna sólida, longeva e imponente na paisagem.

taipa2

O arame e o mourão de madeira ou pedra foram substituindo as taipas na medida em que estes materiais se tornaram mais disponíveis e baratos. O arame liso chegou ao Rio Grande do Sul a partir de 1870 e o arame farpado só aportou por aqui lá em 1913, importado dos EUA, de onde surgiu em escala industrial em 1873. Hoje as taipas são ainda construídas mais como elemento decorativo do que funcional. Em algumas fazendas serranas ainda é possível ver estes monumentos de pedra cumprindo ainda sua função de manter de um lado os bichos de criação e de outro os homens. A taipa também se tornou um elemento que impedia a livre passagem de pequenos bichos nativos como os graxains, lagartos, cutias, zorrilhos e tantos outros menores que passaram a ficar isolados. Separados uns dos outros por este muro, bichos e homens mantinham a ordem nas estâncias.

taipa4

As taipas separavam aqueles que ia morrer mais cedo, como o gado, porcos e galinhas, dos homens que viviam um pouco mais. Elas viam a todos nascerem e morrerem por incontáveis gerações. Quanta história poderia ser extraída da memória destas linhas de pedra que cortavam os campos e tudo viam sem poder interferir no rumo das coisas, limitando-se a demarcar os ambientes de cada um. Separar homens e animais parece uma vingança surda, lenta e permanente das pedras que foram desenterradas e empilhadas expostas ao sol, chuva, geada e ventos, sofrendo assim a lenta e derradeira morte pela erosão, transformando-se em areia e solo. A sina das taipas...

logo retangular

Atenção:
É proibida a reprodução, total ou parcial, dos conteúdos e/ou fotos, sem prévia autorização do autor.