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Lua cheia no campo e na cidade

lua cheia

Um dia destes fiquei observando a chegada da lua cheia aqui, em Canela. Sentado na área e olhando para o leste, observava as luzes dos postes da rua à frente que pareciam luares em fila, porém estacionárias, frias. Logo que escureceu mais, vi surgir aquele brilho alaranjado por detrás da folhagem escura de um grande cedro-rosa que tem no terreno do vizinho. Pouco a pouco, entre taças de vinho e conversas, observei que aquela bola, ao contrário das luminárias da rua, vinha subindo e brilhando cada vez mais, passando do alaranjado inicial para um prateado intenso. Em pouco tempo ultrapassou as luminárias, a fiação dos postes, o cedro-rosa e se impôs no fundo escuro do céu, soberana e brilhante tendo como concorrentes poucos pontinhos luminosos de estrelas distantes.

Em outra ocasião, fiz o mesmo exercício no campo. Sentei-me voltado para o nascente, com a fogueira atrás de mim, e fiquei aguardando a chegada da cheia. Quando surgiu, era uma bola laranja no horizonte que parecia um sol fraco, decadente, mas irresistível. Ao contrário do sol, ela pode ser observada sem proteção ocular, e isso a torna diferente, mais desafiadora e instigante. Sozinho naquele acampamento, vi a lua subir e iluminar tudo ao redor, projetando sombras pesadas nas bordas do capão de mato onde estava. Com um repentino frio no rosto, trazido pela brisa gelada que vinha de algum lugar, senti circular a fumaça da fogueira e percebi o cheiro da lenha queimada que sempre me traz boas lembranças. Olhei a paisagem em volta, pintada com a pouca luz, percebi que as pedras pareciam fortalezas mortas, apagadas, mas imponentes, como que a cuidar do lugar. O gado, indiferente ao momento poético, continuava pastando e seus corpos, naquele fragmento de tempo, não tinham cores definidas, parecendo todos de uma só tonalidade, a cinza escura.

Fico comparando uma experiência com a outra e um momento com o outro. O luar na cidade tem muita concorrência de holofotes urbanos, tanto dos postes das ruas, como das casas e dos automóveis que circulam, ofuscando o brilho atraente e enigmático deste satélite da terra. A lua cheia no campo não tem concorrente, é única e soberana, espalhando-se por tudo e prateando as coisas, sejam bichos, plantas ou pedras. Prefiro a última, que dança no céu e joga, além da claridade do sol, toda uma aura de mistério e encantamento que desafia, há milênios, os mais hábeis intérpretes de sua luz baça, de suas crateras e de suas interferências na vida aqui na terra.

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