Blog Andando por Aí

A fila da gasolina.

 

Máquina de extração de petróleo na Patagônia austral, Argentina

Nos últimos dias de maio deste ano de 2018, aconteceu a famosa greve dos caminhoneiros pelo Brasil inteiro. Tudo começou a parar nas estradas e, por consequência, nas cidades o combustível sumiu das bombas e nos mercados a ausência de algumas mercadorias mostravam gôndolas vazias, fato que desencadeou um comportamento pouco conhecido das pessoas: o pânico de ficar sem comida e combustível. O medo de ter um carro com o tanque vazio para uma necessidade e a falta de hábito de andar a pé, o receio de um desabastecimento de comida e outros itens, criou corridas inimagináveis aos postos de serviços quando o pouco combustível liberado, chegava.

Durante a greve eu andava à pé pela cidade, assim como muitos outros canelenses, e sentia o ambiente mais leve, o ar mais limpo, o barulho menor, o movimento de carros como se fosse um domingo de manhã e pensava que se, ao invés de ter sido uma greve o fator desta parada, fosse devido ao colapso do petróleo e que ele, der repente, tivesse mesmo chegado ao fim, esgotado pelo excesso de exploração e as plataformas marinhas sem sugar um galão sequer, os poços terrestres secos e parados por falta do negro, viscoso, fóssil e fedorento petróleo. Como seria nossa vida?

Imagino o preço a que chegariam os derivados com o pouco que ainda tinha nos estoques das refinarias e nos gigantescos petroleiros ainda em trânsito pelos mares do mundo. Teríamos que buscar urgente uma alternativa, ou não teríamos como comer, andar rápido, distribuir toda sorte de produtos que necessitamos diariamente e que não nos damos conta que tudo vem sempre em algum caminhão, barco ou avião que necessitam de combustível derivados do petróleo. De uma forma ou de outra, estamos sendo forçados a encontrar uma saída para este dilema da dependência do petróleo, e já se observa que muitos países estão adotando medidas sustentáveis visando a substituição dos carros movidos a derivados do petróleo por silenciosos, limpos, elegantes e ainda caros carros elétricos. No Brasil este processo ainda engatinha.

Sempre foi assim, e sempre será. Quando nos encontramos numa situação limite, buscamos as alternativas que, nesta hora crítica, passam a ser consideradas em função do custo e da necessidade. Tudo que seja mais barato, parece melhor, mas isso pode ser uma falácia. Por ser abundante e barato, o carvão foi muito explorado na Europa, mas enegreceu as cidades com seu resíduo sombrio e volátil que se espalhava de cada chaminé de casa ou indústria. Com o petróleo, foi o mesmo. Abundante e generoso em se desdobrar em mil derivados e produtos, foi o rei dos insumos e transformou o mundo com sua aparentemente inesgotável fonte de energia barata, transformando-se em gasolina, óleo diesel, gás e um grande números de outros derivados.

O preço deste energético fóssil, que dormia no subsolo de diversas partes do planeta, é o que vemos hoje, com nossas cidades entupidas de carros, poluição atmosférica no limite em algumas cidades, uma incontável quantidade de plásticos de diferentes tipos a se espalhar por terras, rios e mares como se fossem restos de um grande cadáver que se recusa a se decompor.

Se comparamos o petróleo com a eletricidade, outra fonte de energia, vemos que esta última começou a ser utilizada em escala maior já em 1875 na França, quando máquinas a vapor tocavam geradores elétricos para abastecer a iluminação pública. No Canadá, um ano depois, foi instalada a primeira hidrelétrica aproveitando-se o potencial das águas das cataratas do Niágara. O petróleo teve seu primeiro poço perfurado no Azerbaijão em 1846. Na América, o primeiro poço comercial perfurado foi no Canadá em 1858 e nos EUA, em 1859. O Brasil descobriu petróleo na Bahia apenas em 1939. Como vemos, eletricidade e petróleo começaram a ser utilizados comercialmente pela humanidade mais ou menos ao mesmo tempo, e o petróleo ganhou desempenho maior em algumas áreas e a eletricidade em outras, como se tivessem combinado uma certa distribuição de tarefas. Agora parece que estamos de olho mais nos benefícios limpos e silenciosos da corrente elétrica frente ao esgotamento e impactos que o petróleo tem causado ao nosso planeta.

Parece que o petróleo não gostou muito de ter sido despertado e retirado de seu sono profundo no interior da terra e, como retaliação, emporcalhou o planta com seus resíduos que, outrora, dormiam em segurança no solo profundo.

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