Blog Andando por Aí

Canela, RS

Canela é uma daquelas cidades altas na geografia que, para se chegar vindo do sul, é necessário subir as escarpas do Planalto em uma bela e sinuosa estrada que vai mostrando a beleza da encosta e preparando o visitante para o que vai encontrar lá em cima. Subindo sempre, nota-se que o ar vai mudando de quente para temperado até quase frio, mesmo no verão, e a vegetação vai alterando formas e cores, surgindo araucárias por todos os lados e, se for no final da primavera, o alaranjado das flores da corticeira-da-serra vai colorindo barrancos e matas distantes como se fossem luzes dentro da mata. Subindo mais um pouco, flores começam a aparecer nas bem sinalizadas rótulas e canteiros e, naqueles barrancos mais abrigados do sol, o maciço de hortênsias impressiona pelo verde escuro de suas folhas e colorido branco, azul ou rosa das cachopas de flores que, de tão lindas, acabaram emprestando o seu nome a toda a região, mesmo sendo originária de muito longe, de uma geografia muito diferente, lá do Oriente.

No final da subida descortina-se a vizinha e bela cidade de Gramado. Ali tudo é organizado e limpo, os canteiros impecáveis exibem diversidade de flores, formas e cores difícil de serem vistas em outros lugares. Serpenteando por dentro da zona urbana, chega-se a ampla rodovia que leva a Canela, minha cidade natal.

Aqui é diferente de outras cidades em muitos sentidos e aspectos. Tem problemas viário difíceis de solucionar, ruas simpáticas, uma bela igreja central, muitos parques naturais e um apelo atávico, um gosto de terra mãe que mesmo morando 20 anos em Porto Alegre, não esqueci. Assim que pude, voltei com a família para viver aqui e sentir o gosto da infância, o gosto da água e da terra, o aconchego dos amigos de sempre, o cheiro do ar com fumaça de fogão a lenha, o silêncio das noites e o clima temperado que tanto me agasalha. Estes elementos da minha lembrança me puxaram de volta à terra de nascimento, parecendo mesmo que estava em débito com ela por ter partido e ficado tanto tempo fora. Converso sempre com minha cidade e digo que fui embora por força de circunstância, mas sempre mantive um olho e o coração aqui. Minha cidade me entende e eu a entendo, vivemos em harmonia e ambos acompanhamos a evolução urbana, ora assustados, ora orgulhosos.

Gosto de andar pelo centro e circular pela praça da catedral e ver o quão agradável e diferenciado ficou o local de uns dez anos para cá. Gastronomia diferenciada, lojas especializadas de diferentes segmentos, muita gente circulando, fotografando e se admirando ao ver a preciosa recuperação de um prédio icônico como o Auxiliadora que tanta história abriga. Canela é bonita e parece uma linda moça que se arruma para uma festa, tendo ainda os cabelos desalinhados e a roupa provisória, mas que se vê no rosto e no corpo, uma bela mulher e que ficará ainda mais chamativa quando pronta, com roupa nova e maquiagem. Assim vejo nossas ruas sendo rasgadas e preparadas para uma nova etapa, com melhor sistema de escoamento de água e esgotos direcionados ao tratamento.

Gosto da nova praça central, com seus novos espaços, muitos bancos, flores o ano todo e que cada vez mais atrai o visitante, antes distante deste espaço. O último festival de bonecos mostrou o quão agradável está este local, abrigando apresentações e atraindo muita gente. Logo a cidade estará vestida para mais um Sonho de Natal com suas cores, luzes e alegria da festa natalina que tantos visitantes atrai. Sou um canelense de origem, orgulhoso da minha terra, da região e das minhas raízes e tive a felicidade de poder criar aqui meus filhos e ver minha neta começando a se familiarizar com os detalhes desta abençoada geografia, assim como eu fizera. 

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