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É um graxaim!

Graxaim do campo patrulhando seu ambienteGraxaim-do-campo

A primeira lembrança que eu tenho da palavra graxaim vem do meu pai, quando eu ainda era criança. Ele usava a palavra pejorativamente para designar qualquer pessoa que, por algum motivo, não “prestava”. Aí ele lascava: “...é um graxaim!”. Só depois entendi o que esta palavra engraçada significava de fato: era o nome de uma espécie de cachorro-do-mato, pequeno e curioso que podia ser visto e/ou ouvido nas noites de acampamento que fazíamos num local que hoje abriga o Distrito Industrial de Canela.  Era um local de mata densa, arroios e nascentes límpidas que compartilhei durante muitas férias de verão com meus amigos de infância. Acho que foi deste período que se instalou em mim o gosto e a admiração pela natureza e seus elementos.

Graxaim do mato vido me visitar 2Graxim-do-mato

Anos depois, já na PUC durante o curso de Biologia, conheci melhor este pequeno carnívoro nativo do Brasil e na biblioteca encontrei um trabalho técnico feito na Argentina sobre uma espécie de graxaim da região da Patagônia. Fazendeiros de lá reclamavam que os graxains estariam imprimindo baixas severas aos rebanhos de ovelhas e permitiram um estudo científico no local. Durante dois anos os biólogos, coordenados por Jorge Crespo, capturaram 257 animais e analisaram, entre outras coisas, o conteúdo estomacal deles. Surpreendentemente, o resultado mostrou que mais de 60% do material encontrado referia-se a restos de roedores nativos e lebres, sendo que apenas pouco mais de 20% representava restos de ovinos, ainda assim grande parte era de carniça. Provou-se que, muito antes de ser o responsável pela predação de ovelhas, o graxaim exercia um papel de controlador natural de espécie de roedores e lebres, que se alimentavam do mesmo capim das ovelhas. Conto isso para mostrar que o nosso graxaim aqui deve exercer ações semelhantes aqui nas fazendas da região, sendo mais útil vivo do que morto.

Casal de graxaim do campo em visita aqui na Borda webCasal de graxaim-do-campo

No Rio Grade do Sul temos duas espécies de graxains: o graxaim-do-campo, que tem cor mais clara e vive mais em áreas abertas e o graxaim-do-mato (foto) que é mais escuro e vive sempre associado a áreas de matas e capoeiras. Tenho visto muitos graxains atropelados nas estradas, sinal de que esta espécie se desloca continuamente. Ele não está ameaçado de extinção, se adapta bem as mudanças que o homem imprime ao meio ambiente e não tem nada de pejorativo. Sugiro utilizar a expressão “...é um graxaim” para alguém esperto, rápido, e com grande resiliência, esta capacidade que algumas espécies têm de superar obstáculos, resistir à pressão de situações adversas do ambiente e adaptar-se rapidamente a mudança. Certamente que o meu pai não iria se importar com esta inversão de sentido de seu adágio preferido.

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