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Mês das queimadas

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Andar pelas estradas serranas, nesta final de agosto, é ver um quadro de queimadas por todos os lados que se passe. As cortinas de fumaça se elevam ao comando do vento e encobrem tudo, inclusive a visão de quem está dirigindo. Já escrevi sobre este assunto, mas me parece que é inesgotável, visto que impacta os que tem a chance de presenciar uma ação destas. Sempre me perguntam se é ou não proibido realizar estas queimadas de campo, e eu sempre respondo que existe uma lei sim que regulamenta a ação, sendo ela permitida desde que tenha havido um projeto de queima de campo submetido e aprovado pelas autoridades competentes.

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Quem cria gado, ovelha e cavalo sabe bem como é o nosso campo nativo, formado por plantas de crescimento anual que, ao final do outono, fenecem deixando um campo formado por uma camada de palha morta, sendo que no solo, a profundidades variadas, estão suas raízes, sementes e tubérculos, seguros ali pelo escuro, frio e negro solo. O fogo passa e queima esta palha seca que o gado não come, deixando o solo livre para a brotação nova da primavera, que se avizinha. Se esta palha não for queimada, ou cortada, vai se acumulando ano a ano como um estoque de matéria orgânica que vai sendo decomposta e reincorporada muito lentamente, mas que corre o risco de um fogo provocado por qualquer meio – raio, toco de cigarro ou isqueiro, transformar o local num verdadeiro caldeirão devido a grande quantidade de combustível disponível – a palha seca.

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Já vi proprietários de campo que, não sendo fazendeiros de ofício, quiseram manter o campo nativo original, sem queimadas e sem gado. Em dois anos já era impossível caminhar pelo campo que estava transformado numa macega de mais de um metro de altura, denso e impossível de se ver o solo. No terceiro ano entrou um fogo vindo da beira da estrada e o que se viu foi um incêndio de proporções impressionantes, entrando inclusive na mata próxima calcinando tudo. Resumindo, este proprietário vendeu seu campo e voltou para a realidade da cidade.

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Sempre me perguntei como era gerenciado o campo nativo aqui da região da serra antes da introdução do gado pelos jesuítas e tropeiros, lá pelos idos de 1700. Até aí, os herbívoros que habitavam o campo eram os veado-campeiros, capivaras, preás e outros. Não havia bois, cavalos, ovelhas para consumir o pasto e isto deveria criar grandes estoques de palha, o que me leva a acreditar em grandes incêndios periódicos pelos campos, provocados por raios ou pelos próprios índios para caça ou limpeza de alguns locais. Até me provarem o contrário, acredito que estas queimadas sempre existiram na história dos nossos campos, apenas que agora há muito mais testemunhas e pessoas que, ao não entenderem o sistema, ficam indignadas com o fogo, sem saberem qual a sua função verdadeira. Não sou fazendeiro, não tenho sequer um metro quadrado de campo, mas minha vivência me habilita a dizer que sim, a queima anual é necessária, a menos que se corte a palha, ou se coloque uma lotação de gado que rape o campo, ou que se lavre e plante batatas, brócolis ou milho.

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