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Cogumelos e suas histórias.

Cogumelos portini 2Colheita de cogumelo portini

Mistério, medo, ignorância, encantamento e curiosidade. Estes são alguns dos substantivos que encontro para definir os cogumelos. Os três primeiros eu os tinha quando nada conhecia sobre estes organismos de sombra e umidade. Quando os encontrava, evitava, chutava, ignorava. Depois de cursar Biologia, desenvolvi os outros dois substantivos, que me norteiam até hoje. Sempre soube que a ignorância é o que nos afasta de pessoas, plantas, animais e fatos, como a história, por exemplo. Conhecendo-os um pouco mais, vi que o mistério, o medo e a ignorância não tinham nenhum sentido e só estavam ali plantados na minha mente por desconhecer a essência dos cogumelos.

Estes fantásticos organismos, um misto de animais e plantas, mas sem ser nenhum deles, estão espalhados por todos os continentes e medram sempre que o ambiente lhes oferece um mínimo de condições: umidade, temperatura amena e matéria orgânica morta. Crescem no escuro do solo enroscados nas raízes ou no interior de um tronco morto de árvore que cai por velha, ou por raio, e ali ficam ocultos até que sentem que a hora é adequada para espalhar suas sementes – os esporos. É aí que aparece a parte do seu corpo que mais aprecio – o cogumelo. Sim, o cogumelo é apenas uma parte de um corpo maior do fungo e só aparece para produzir e espalhar os esporos, garantindo assim a dispersão e a próxima geração do fungo.

O mestre dos fungos, o biólogo Jair Putzke, utiliza um exemplo prático que nunca esqueci: ele compara o fungo com uma laranjeira e os cogumelos com as laranjas maduras. Se apanhamos as laranjas, não comprometemos a árvore que continua viva e produzirá novamente laranjas na próxima estação. Assim são os cogumelos, como frutas de uma árvore que não enxergo, ou por subterrânea, ou por oculta em algum tronco, mas que exibe seus frutos para serem apanhados.

O outono é uma das melhores estações para os cogumelos e, quando os encontro, aplico sempre um filtro seletivo utilizando o meu conhecimento, que é sempre muito menor que a minha ignorância. Uns são bons para culinária, personificando excelentes risotos, ou refogados para acompanhar torradas, ou colorindo omeletes deliciosos com salsa e pimenta preta. Outros são bons para cura de feridas de pele e logo são colhidos e guardados para uma necessidade. Outros ainda são daqueles que são duros demais para o consumo – as orelhas-de-pau, e então são ralados e secos para serem espalhados sobre uma massa ou salada, aumentando em muito a qualidade nutricional do alimento. Há ainda aqueles que não são palatáveis, por amargos ou azedos, mas que não intoxicam, sendo deixados de lado para que sigam sua função. E tem aqueles com substâncias psicoativas que são buscados para experiências extraterrestres... Estes eu os conheço, mas não me interesso, apenas sei quem são, respeito-os e os deixo ali nos estercos bovinos para que cresçam e completem seu ciclo.

Hoje olho para os cogumelos com admiração, sabendo do seu grande significado e importância para os sistemas naturais do planeta. As plantas verdes produzem, através da fotossíntese, a matéria orgânica – folhas, frutos, sementes, fibras, madeira, etc. Os fungos fazem a decomposição desta matéria orgânica, após a sua morte. Quem é mais importante? Ambos. O mundo hoje, sem os fungos, seria uma pilha de dezenas de metros de matéria orgânica, cadáveres de todos os tipos e tamanhos, sem que tivessem fim. Este trabalho “sujo” é feito principalmente pelos fungos e muitos deles ainda me brindam com cogumelos deliciosos que podem ser levados a uma frigideira quente com óleo de oliva, alho, sal, pimenta preta e um tempero verde. O desconhecido cria fantasmas e a ignorância alimenta a estupidez. 

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