Blog Andando por Aí

Sete anos de uma aventura literária

Uma cutia se alimentando de pinhão, seu alimento preferido no outono

Num certo dia do final maio de 2012 o meu amigo Sergio Luiz dos Santos, então um dos novos donos do Jornal Nova Época, convidou-me para escrever uma coluna semanal sobre meio ambiente na nova fase do jornal que ali iniciava. Pensei um pouco na responsabilidade e obrigação de criar textos não técnicos sobre natureza, acessíveis ao público do jornal, para todas as sextas feiras, e disse a ele que eu não tinha experiência em escrever neste formato e de maneira sistemática para jornais. Falou para pensar com carinho e disse que aguardaria uma resposta. Depois de alguns dias, imaginando que poderia ser um bom desafio, acabei aceitando o encargo. E assim me dediquei a traduzir o que via na natureza e no meu dia a dia, e transformar tudo em crônicas de fácil leitura e com o apoio de fotos que, para mim, sempre foram de grande valor para ilustrar um texto, muito utilizado por mim nos tempos de ensino na Universidade. Assim nasceu a primeira coluna, de meia página naquela época, quando utilizei a estação do ano e as suas características para traduzir o que via e o que sentia. Tomo a liberdade de reproduzir aqui, para aqueles que não leram na época, ou para os que leram e não lembram, a minha primeira crônica para este jornal publicada em 8 de junho de 2012.

 O trabalho silencioso da fauna na floresta de araucárias

Nesta época do ano e até o final de julho, nos habituamos a ver nos pátios, praças e parques com araucárias, os pinhões maduros no chão. O que não é tão visível é a presença de um verdadeiro exército de animais nativos que, além de se alimentarem ativamente desta semente, espalham-nas para áreas distantes (dispersão). Uma lista de espécie de aves e mamíferos, alguns conhecidos e outros nem tanto, fazem este trabalho silencioso e permanente que vai garantir o surgimento de uma nova geração de araucárias.

Cutia, gralha-azul, papagaio-peito-roxo, serelepe (esquilo), roedores pequenos, bugios e tiribas são alguns dos representantes da fauna nativa que de alguma forma contribui para o “plantio “ dos pinheiros. Dentre todos estes, destacamos a cutia, um roedor nativo da América do Sul que vive associado sempre as matas, local onde encontra seu alimento (frutos, sementes, raízes e talos de plantas), abrigo e local para ninho. Como um hábito de previdência, a cutia enche a boca com vários pinhões e sai enterrando um a um, de forma aleatória pela redondeza. Com o passar do tempo ela volta e os desenterra para se alimentar. Neste processo, muitos pinhões germinam antes da cutia voltar, e assim novas árvores surgem todos os anos para garantir as gerações futuras mais e mais pinhões. Mais do que a gralha-azul, a cutia é a grande responsável pela regeneração natural das araucárias. Uma saudação especial às cutias nesta semana que se comemora o dia mundial do Meio Ambiente.

Assim começou meu hábito ir, ver e escrever que, até agora, não arrefeceu. Sempre apoiado pela direção, que logo mudou e passou ao comando da minha amiga Marina Gil, obtive a liberdade para criar, viajar e trazer novidades. Assim, nestes sete anos, fui para o Topo do Rio Grande, para os cânions e bordas dos aparados, para a Lagoa do Peixe, para o Rio Camaquã, para Ushuaia, lá no fim do mundo e para o deserto do Atacama, sempre tocado pela vontade de buscar inspiração para escrever e fazer fotos originais. Minha escrita evoluiu, mudou um pouco de direção e de estilo, mas sempre com o objetivo de retratar o que considero inusitado, interessante e original numa natureza na qual me inspiro e me insiro completamente.

Muito importante para mim foi, também, o retorno que tive dos leitores que sempre me estimularam a escrever, escrever e escrever. Um saludo especial a direção e a todos os profissionais deste jornal diferenciado que, nestes sete anos, não cansou de contar nossa história, tanto a do presente como a do passado. Que venham mais vários sete anos de trabalho.

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