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A praia de Bujuru

 paraia bujuru3Revoada de um bando de trinta-réis

Andar na praia de Bujuru me encanta quando vejo dezenas de pequenas e grandes aves típicas do ambiente costeiro marinho formando grandes bandos na zona de maré, todos em busca da farta alimentação composta de pequenos peixes, crustáceos e moluscos trazidos pelas ondas. As aves avançam para o mar e recuam, conforme a onda volta ou vem, parecendo que o bando é um único organismo de mil patas.

paraia bujuru Gaivota-maria-velha

Andar na praia de Bujuru é encontrar dezenas de trinta-reis, estas pequenas aves que por aqui andam e encantam quem passa, exibindo suas penas negras e brancas acompanhadas de bicos e patas vermelhas. Quando levantam voo, parece uma dança ensaiada de há muito, cada um executando uma ação específica. O conjunto é um espetáculo imperdível de malabarismos e danças ao vento. O piru-piru, com seu hábito social mais reservado, anda quase sempre em pares exibindo seu longo bico vermelho, inconfundível, utilizado para pegar tatuíras e abrir conchas de mariscos e outros moluscos da areia macia da beira mar.  Garça-branca-grande, garça-branca-pequena, gaivota-maria-velha e gaivotão se misturam aos pequenos trinta-reis e quebram a monotonia e a forma quase homogênea do bando branco e preto. A proximidade com o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, pouco mais ao norte, mostra a vocação deste litoral e a afinidade que estes grandes bandos de pequenas e grandes aves tem com a região.

paraia bujuru1Um gaivotão jovem, a esquerda, e um adulto

Andar na praia de Bujuru é entrar num mundo sonoro diferente, destacando-se o vento, ondas quebrando, areia voando e batendo em qualquer coisa que esteja na praia, aves gritando, conchas quebrando sob os meus pés ao andar e o eventual barulho de motor de algum carro de pescador ou os sons coordenados de puxarem redes que, para espanto, trazem muito lixo junto com os papa-terras. 

paraia bujuru6Um piru-piru com seu grande bico vermelho

Andar na praia de Bujuru é sentir o sabor do sal que a maresia empresta as minhas narinas e me remete aos verões da infância na praia de Arroio Teixeira. A dança da areia que ora vem para o mar, ora vai para as dunas, cria uma alegoria que desagrada a maioria, mas se vista de outra forma, pode ser bem interessante. Observar a areia correndo e notar como se formam as micro dunas, sempre a partir de algum obstáculo, que pode ser uma concha de marisco proeminente no solo, apreciar como a areia contorna este obstáculo, perde um pouco da força e se deposita antes e ao entorno dele formando um montículo, é perceber a dinâmica do litoral, dos ventos, das dunas maiores e da rala e resistente vegetação que por ali se fixa.

paraia bujuru4Pequeno bando de trinta-réis

Assim vi a praia de Bujuru, um lugar que remete a solidão e a natureza, a maresia, peixes, mariscos, vento, areia correndo, aves as centenas e uma dura vida dos pescadores que lutam pelos peixes e pelo sustento de suas famílias. Tive o mesmo sentimento do vento e da areia, ora lembrando do passado, ora do presente, mas tendo a certeza de que a vida é igual, levando-me para lá e para cá.

paraia bujuru8Pescadores puxando uma rede

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