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Jardins gaudérios

Jardim2Flor de corda-de-viola

Andando pelas ruas de Canela neste início de outono, presto atenção naqueles terrenos baldios que, a cada ano, são mais raros. Mesmo assim ainda tem alguns por aqui, por ali e que fazem a festa das plantas nativas ou exóticas que por eles se espalham ao gosto de suas adaptações. Um jardim feito pelo homem tem regras, simetrias, distribuição estudada de plantas que florescem e fenecem em tempos estabelecidos, tudo para criar o belo, o atraente, o diferente que deve encantar o dono da casa ou do condomínio em questão.

Jardim3Espigas maduras de capim-dos-pampas

Um jardim gaudério, como tomei a liberdade de chamar, é um destes jardins sem lei e sem ordem, sem planejamento e sem tempo estabelecido que se criam nestes terrenos onde o homem não se ocupa deles. Ali nascem o que o vento, a chuva e algum pássaro trouxeram na forma de sementes e, se bem adaptadas, crescem e se estabelecem. O jardineiro, nestes casos, é formado pelas leis naturais do lugar e não tem regalia ou preferência por ninguém. Semente que vem e que consegue evitar de ser comida por alguma ave ou inseto e é enterrada pela poeira ou chuva, cresce e procura o sol. Assim é a mão da natureza e o resultado é um terreno com flores diversas espalhadas aleatoriamente formando um desenho irreconhecível, mas com certa harmonia e encanto, bastando que se permita ver.

Jardim4Maciço natural de erva-lanceta

Trepadeiras, ervas rasteiras, arbustos, parasitas e muitas outras espécies vão competindo pelo  solo e pelo sol, sem que haja nenhum tipo de favorecimento de um para outro. A lei natural é clara: só se estabelece o mais competitivo, o mais capaz de enfrentar as adversidades e isso cria o desenho do jardim gaudério. Bonito ver os maciços da medicinal erva-lanceta ou arnica-do-campo, amarelando tudo em volta, ou as grandes flores violetas da corda-de-viola subindo em tudo e em todos para se expor aos olhos dos insetos para atraírem visitas, ou os penachos do capim-dos-pampas parecendo tochas se balançando ao vento e espalhando sementes, com se fumaça fossem.  O tempo e as estações do ano imprimem as mudanças nestes jardins, trocando plantas e criando novas cores e formas. Basta que se preste atenção a estes locais abandonados que fazem a alegria destas espécies que só aguardam que nossas roçadeiras e assopradores fiquem longe deles para se instalarem e brilharem a sua moda, a sua forma. Tudo é beleza na natureza, basta que se observe.

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