Blog Andando por Aí

Encontrando uns bichos

bichosGraxaim-do-campo, pequeno predador nativo

Um dos meus hábitos preferidos é andar por aí e encontrar animais na natureza, ou na cidade, ou nas estradas. Não importa, o que me vale é o encontro, a surpresa de ambos. O bicho, por me ver, interrompe sua rotina e assume um comportamento de fuga ou, com menos frequência, fica parado me olhando e tentando identificar o potencial de perigo que represento. Eu, ao contrário, fico quieto e tento “disfarçar” a minha presença, coisa totalmente inútil, mas que me dá uns segundos até conseguir armar a câmera e fazer um registro. Tudo muito rápido, emocionante e tenso, algumas vezes. Ver um graxaim pelo campo ou dentro da mata andando atrás de parceiro ou de alimento, faz com que me reporte ao mundo dele e tento entender o bicho. Caçar para comer é uma tarefa árdua e exige conhecimento, faro, ouvidos afiados e olhos adaptados a pouca luz. Isso me encanta e por poucos minutos assumo o papel dele, do caçador, do sobrevivente e sinto um pouco toda a angústia e dificuldade por que passa este pequeno predador.

bichos3A seriema e suas longas pernas

Encontro um casal de seriemas no campo e fico observando seu lento caminhar pelo gramado alto sempre com um olho no solo e outro no horizonte, ou procurando comida ou cuidando das armadilhas do ambiente. Passar o dia andando e catando insetos, serpentes e outros bichos para comer faz das seriemas predadoras iguais aos graxains, apenas que utilizam técnicas e ferramentas diferentes. Uns com seus pontiagudos dentes caninos e outros com seus bicos afiados como navalhas, sujeitam as presas e garantem o alimento.

bichos2Um mão-pelada atropelado

Numa volta de estrada encontro um mão-pelada atropelado, coisa recente devido ao sangue ainda fresco a empapar a terra. Era cedo de uma manhã de bom sol e o atropelamento deve ter ocorrido no final da madrugada. Fico ali pensando naquele bicho pouco conhecido, mas que é nativo daqui, e na sua rotina da noite. Deve ter passado muitas horas da madrugada caçando e estava retornando para seu abrigo, uma mata próxima onde deveria ter algum oco de árvore onde se abrigava durante o dia. Fim de jornada para ele. Mas, mesmo assim, me travesti de seus hábitos e tentei entender sua rotina de caçador noturno acostumado a andar na pouca luz pelas beiras de arroios e rios caçando e utilizando seus longos dedos nus das mãos - daí seu nome popular, para manipular e lavar o alimento antes de ingerir.

bichos1Um lebre no campo nativo 

Noutra ocasião, encontro no campo uma lebre um pouco a minha frente. Assustada, levantou suas grandes orelhas e saiu correndo pelo gramado. Como fiquei imóvel, ela parou pouco adiante. Ficamos assim, por alguns segundos, um avaliando o outro até que consegui um bom registro fotográfico. Fiquei ali vendo ela sair correndo mais um pouco e parar novamente e concluir que eu não era ameaça, e logo se pôs a comer os talos do capim. Transportei meu pensamento para ela e tentei entender sua rotina, como fiz com os outros. Bicho pequeno, exótico no sentido de não ser nativo daqui da América – veio da Europa trazidos pelos colonizadores, e vi como consegue se manter viva num ambiente carregado de predadores, como graxains, cães domésticos, espingardas e gaviões que gostam dos seus filhotes. Bicho resistente, esperto e que tem uma mobilidade extraordinária. Come plantas, mas é comido por muitos carnívoros. É assim a natureza.

logo retangular

Atenção:
É proibida a reprodução, total ou parcial, dos conteúdos e/ou fotos, sem prévia autorização do autor.