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Eu sou o caqui

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Sou vermelho alaranjado, macio ou firme, com polpa doce e cremosa ou ainda com riscos de chocolate. Sou o caqui, fruta que não é daqui, mas lá da China. Fui trazido de lá para o Brasil meridional, onde encontrei um clima ideal para o meu crescimento. Estou por todos os mercados e fruteiras das cidades, saciando a fome dos apreciadores dos meus açúcares naturais, mesclados com vitaminas e fibras.

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No meu país de origem sou chamado de dióspiro, ou “fruto dos deuses”, e o nome caqui surgiu no Japão, quando para lá fui levado há séculos. Encontrei, na América do Sul, bons lugares para crescer e produzir meus preciosos frutos no início do outono, lado a lado com uma semente nativa conhecida como pinhão. Temos a mesma sincronia de amadurecimento e fazemos a festa da fauna e das pessoas no outono.

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Tenho amigos que me adoram e aguardam este precioso período do ano para saciarem a fome. Sabiás, saíras, sanhaçus, tucanos, gralhas, saracuras, morcegos, gambás, pequenos roedores e insetos, como as temidas vespas, encontram em mim uma fonte de prazer e festa. Ofereço-me a todos, sem distinção, e fico observando como fui bem aceita por esta legião de bichos e gentes.

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Após oferecer minha polpa, fico triste, mas feliz, e demonstro isso transformando lentamente minhas folhas verdes em bandeiras multicoloridas, por lhes cortar os nutrientes. Faço todas elas ficarem coloridas para sinalizar a proximidade do inverno, emprestando ao ambiente uma inesperada descarga de alegria visual, após proporcionar prazer gastronômico. Exponho meus galhos com as cores neutras do outono e, pouco a pouco, deixo colorido o chão a minha volta, parecendo ter ciúmes das minhas folhas perdidas, querendo-as ali aos meus pés até sumirem no solo, consumidas pelos recicladores.

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Totalmente nua, com meus ramos finos e grossos expostos ao rigor do frio, preparo-me para o inverno, ao contrário dos animais que, nesta época, se revestem de pelos, penas ou roupas grossas para encararem as baixas temperaturas. Como vim de um lugar onde os invernos são rigorosos, com neve durante meses, adaptei-me perdendo as folhas inúteis neste período, guardando nas minhas raízes toda a energia produzida no verão. Então eu “durmo” nua no inverno, mas minhas reservas me fazem renascer na primavera e logo começo formar novas folhas e ramos, preparando para uma nova safra de frutos e sementes. Não sou daqui, mas, aqui, me sinto bem. Sou o caqui.

  

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