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Galpão de Estância

 

Sala de ordenha da Estância tio Tonho, uma parte importante do galpão

Um galpão de estância é aquele lugar especial em qualquer fazenda onde se reúnem as vacas para o ordenha, os cavalos para a encilha e as ovelhas para a proteção dos predadores noturnos. Também ali se guardam os apetrechos de montaria, alinhados com capricho à espera do uso diário, onde os cheiros são sempre uma identidade incontestável, seja pelo aroma de terra que se evola do chão batido, do suor dos cavalos, do esterco e urina dos animais, do leite fresco e morno que é retirado nas madrugadas ou do perfume de mato fresco que entra pelas janelas, frinchas e portas.

Aqui na Estância Tio Tonho, em São José dos Ausentes, tem um destes galpões que vejo como um verdadeiro monumento ao trabalho rural e ao gauchismo serrano. Construído pelo proprietário, meu amigo Afonso Vieira, tem um apelo especial no sentido de ser uma obra erigida com tábuas de araucária de madeireiras que foram embargadas e multadas há muitos anos, por derrubadas ilegais. Afonso construiu um galpão amplo, diversificado e que atende inclusive as necessidades da sua família, já que numa das extremidades dele está inserido a sua casa, a cozinha e a sala de refeições da pousada. Um lugar único que mistura galpão autêntico, casa de família e restaurante rural, com mesas e paredes de araucárias com os nós de pinho como adereços e identidade da região, uma ampla lareira e fotos nas paredes com a história da estância e da família.

Café, almoço e janta são servidos neste recinto especial onde as almofadas são todas substituídas por pelegos de ovelhas curtidas ali mesmo. Telhas transparentes inserem uma luz natural durante o dia dispensando a eletricidade. Um fogão a lenha garante as comidas quentes nas refeições, que são sempre muito bem escoradas com uma ampla gama de saladas criadas pelas mãos hábeis da matriarca Antônia e sua filha Letícia. Dependendo da época desfilam, nas saladas, frutas da estação que são produzidas na vizinhança, como a maçã, ameixa, pêssego, goiaba e mirtilo. Espalham-se em fatias entre folhas verdes ou maionese e dão um toque especial ao cardápio do dia. Durante todo o ano tem paçoca de pinhão, um prato serrano típico que é uma marca registrada, tendo também a linguiça com pinhão, uma variação deliciosa e nutritiva da culinária campeira local.

Assistir o Afonso e seu filho Pablo reunindo os cavalos e encilhando cada um com capricho, calma e eficiência de quem faz aquilo todos os dias, é um aprendizado. Eles promovem as cavalgadas pela região dos cânions e o número de usuários não para de crescer. O plantel de cavalos crioulos, mansos e de fácil condução, encanta os hóspedes e garante uma boa renda para a família. Todos os dias, depois da ordenha, os cavalos já ficam na volta do galpão aguardando a dose de ração que devoram com gosto e muito barulho provocado pelos dentes triturando os grãos, criando uma música incomum com sons graves e ritmados de “roc, roc, roc”. Os gatos da casa têm no galpão o seu território, utilizando os lugares mais incomuns para se refugiarem do assédio dos cachorros, como trepar nos caibros e dormir tranquilamente no forro ou se emburacando sob o assoalho da sala do depósito de ração e medicamentos.

O som, o cheiro, o visual, os detalhes e o astral deste galpão contribuem para que os hospedes o adotem de pronto, circulando por ele como se fosse uma galeria de arte campestre. Os detalhes dos cabides que o Afonso fez com as ferraduras usadas e que servem para segurar os arreios, as cordas e tudo o mais que necessite ser pendurado, é apenas um dos quadros expostos por este artista campeiro. Vale conhecer a galeria de arte gaudéria. Parabéns Afonso, Antônia, Pablo e Letícia. Este galpão é diferenciado e vocês são os responsáveis. 

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