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A beleza sinistra do temporal

A beleza sinistra do temporal

Durante esta semana, aqui na região, tivemos muitos dias de céu fechado, dia virando noite, chuvas, raios e trovões. Esta é a dinâmica da natureza e nada podemos fazer para deter sua marcha. O que podemos, sim, é apreciar de camarote todo o movimento de armação de um temporal e acompanhar passo a passo a movimentação das nuvens encobrindo o céu, preteando o dia e anunciando, através do som dos raios e da luz dos relâmpagos, que vem bomba por aí. Tive o privilégio de assistir um destes espetáculos quando vivi na beira de um cânion em São José dos Ausentes. Confesso que poucas coisas tem o potencial de serem, ao mesmo tempo, fascinantes e sinistras.

 

O passado e o presente

Quando vivi no isolamento da Borda, um local solitário do canion da Coxilha, a energia elétrica foi interrompida devido a um temporal que se arrojou na região, cortando luz e internet. Aí apelei para uma das mais antigas lamparinas que o homem já construiu: a vela. Vela e notebook parece que não combinam, pela distância tecnológica que os separa, mas se não combinam, convivem bem. E isso eu constatei mais de uma vez. Escrever com a reserva de bateria do note e saboreando o bruxulear da chama que parecia acompanhar meus dedos no teclado, foi uma experiência muito interessante. Ao fundo, no escuro da noite, eu podia divisar luzes do litoral de Santa Catarina. Parecia até que a chama amarelada funcionava mais me inspirando a escrever do que iluminando a mesa. Experiência interessante e instigante que colocou o antigo e o novo lado a lado, e nenhum dos dois se intimidou.

 

Águas límpidas

Nestes tempos em que vejo mais água poluída pelos esgotos domésticos e indústrias, mais águas carregando sacos e garrafas plásticas, mais águas turvas devido a erosão de lavouras do que águas puras, quando encontro uma fico muitas horas agradecendo e curtindo o manancial que parece que canta. Caminho pelo leito e converso com o corpo líquido, alertando-o para o que irá encontrar a sua frente. Fico vendo os detalhes do leito com suas pequenas cascatas e corredeiras, os musgos e gramíneas que ali se instalam e aproveito para alguns registros fotográficos. A visão de uma nascente reconforta meu espírito de naturalista e me mostra que ainda não conseguimos sujar tudo...

 

Até onde a vista alcança

Uma das minhas atividades de campo preferidas é sentar à beira de um Cânion e ali ficar vendo, ouvindo, cheirando e sentindo os elementos naturais que me assaltam em abundâncias. A vista se atira ao horizonte e tenta ver um limite, que não existe; as narinas se enchem de perfumes do campo e odores salinos trazidos do litoral; o ouvido capta as flautas do vento e das aves, compondo uma sinfonia complexa, sem hora para iniciar ou acabar. A fome desaparece, a sede inexiste e o tempo para durante um largo período que pode ser interrompido por um som maior produzido por um bando de corucacas ou o estridente chamado das seriemas. Acordo, respiro e sigo para outra poltrona de outro teatro.

 

Luz de um novo dia

Apreciar o nascer de um dia de cima de um gigantesco poleiro de mais de mil metros de altura é inspirador. Olhando para o leste, de cima da borda de um cânion, é possível apreciar todas as fases do nascer do novo dia. Primeiro se cria uma barra alaranjada no horizonte, semelhante àquela que se forma no pôr do sol. Em seguida os tons laranja vão enfraquecendo e dando lugar ao sol, que surge imponente e clareando tudo. A foto mostra um momento antes do sol surgir, com muito pouco luz no campo. Hora fascinante, rápida e marcante.

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