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A surpresa do menarosto

 menarostoEspetos com as codornas na estrutura giratória do menarosto

Um dia destes fui a Otavio Rocha, um simpático e cativante distrito de Flores da Cunha, conhecer de perto a cultura italiana e suas delícias. Sob a condução segura do meu cunhado Daniel, que já conhecia o lugar há décadas e acompanhado por nossas gêmeas parceiras, fui sendo apresentado ao lugar e as pessoas. Conheci o Tranquilo, apelido de um colono autêntico que nos recebeu em sua cantina rústica, limpa e organizada com cheiro de terra e vinho com aquela mistura única de pipas cheias de vinhos jovens e em formação, garrafas e garrafões de vinhos brancos e tintos de uvas diversas – de Cabernet a Barbera, de Lorena a Moscato, da boa graspa a licores derivados dela, tudo simples, mas feitos com maestria pelo proprietário e sua família. 

menarosto1Detalhe do preeparo do menarosto

Dali seguimos para o centro do distrito onde nos aguardava um almoço colonial muito esperado. No pavilhão da comunidade havia centenas de pessoas reunidas com muita alegria e descontração para uma verdadeira festa gastronômica. Entre onze e meia e duas da tarde, foi um festival de delícias que se apresentaram a nossa frente servidas por um verdadeiro exército de garçons. Iniciou pela imperdível sopa de capeletti acompanhada de muito queijo ralado e pão sovado. Impossível ficar no primeiro prato, já que o gosto do caldo e da massa ultrapassou todos os limites do que pode ser bom, com aquele leve toque de noz-moscada, o ponto e o gosto perfeito dos pequenos envelopes de massa recheados. Garrafas de bons vinhos tintos e brancos circulavam pelas mãos dos comensais por todas as mesas, amaciando a sede e enebriando o espírito, liberando as conversas com as demais pessoas da mesa, todas desconhecidas até então. Copo enche, copo esvazia, prato enche, prato esvazia e segue a tarde alegre entre rifas e algazarra organizada dos garçons que, sempre atentos e simpáticos, nunca deixaram faltar o que comer ou beber. Água e suco de uva também andavam em abundância pelas mesas, sem economia.

menarosto6Grostoli em lâminas

Sopa servida, a mesa começa receber os pratos de fundo. Surgem travessas lotadas de chicórias de um verde intenso e convidativo, com seus talos brancos e temperados com vinagre de vinho tinto e azeite, crocantes e suculentas que estalavam na boca, fazendo aquele contraponto para o que viria. Pratos com maionese de batatas com um sabor dilacerante feita no capricho pelas nonas da comunidade surgiram das mãos ágeis da nossa garçonete.

menarosto5Tunel de uvas em frente ao pavilhão da festa, em Otávio Rocha

Finalmente chega o prato principal, aquele que atraiu as pessoas a este evento. É o assado de codornas, conhecido como MENAROSTO, um prato italiano típico da região preparado em espetos rotativos que assam as aves de forma lenta por quatro ou cinco horas, resultando em um manjar impossível de descrever. Junto havia frango e carne de porco, que não me interessei. Fiquei nas codornas comidas de forma lenta, utilizando as mãos para dilacerar as partes maiores e separar as carnes do peito, das coxas e das pequenas asas. O sabor desta carne é único e os temperos emprestados pela sálvia, cebola, alho, vinho tinto e sal realçaram ainda mais o aroma. Comer utilizando as mãos intensifica mais o prazer do almoço. Os dedos selecionam melhor do que o garfo e a faca o que deve ser levado a boca e ainda deixam um pouco do gosto para ser apreciado no final, quando são delicadamente limpos pelos lábios. Por fim uma farta distribuição de grostoli com muito açúcar e canela regado com café preto, uma chave de ouro para o encerramento desta festa gastronômica. 

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