Blog Andando por Aí

Eu sou a sombra

Sombra1

Não tenho cor nem textura, meu tamanho e minha forma sempre estão mudando de acordo com a posição da luz no objeto a minha frente, e isto me faz diferente de tudo e de todos. A noite eu sou plena, cubro a metade do planeta e ainda posso aparecer quando tem lua cheia ou fogo, ou outras luzes que os humanos produzem. De dia eu ando por tudo, não respeito cerca, muros, vales, encostas, ruas ou janelas. No campo eu entro em todas as dobras do terreno, independentemente de sua declividade ou aclividade, e reproduzo sempre as formas das coisas que estão na frente da luz. Com um pinheiro solitário no campo, por exemplo, eu faço uma dança lenta com a figura projetada ao longo do dia, espichando pela manhã, diminuindo conforme chega próximo ao meio-dia e me alongando novamente para o outro lado, à tarde, até que o sol desapareça. Posso dizer que sou mais feliz do que o pinheiro, porque eu não sou fixo, eu giro, cresço, estico e encolho num só dia, como se fosse um pinheiro elástico. Já ele só pode me olhar e pensar: como eu queria fazer o que a minha sombra faz, como eu queria ir lá longe aonde ela vai cedo de manhã e no final da tarde”.

Sombra3

Como eu não sou feito de material nenhum, como o são as paredes, árvores, pessoas, carros ou pedras, eu tenho a absoluta liberdade de ir e me moldar a todos os lugares. Projeto os objetos da forma mais estranha e divertida, podendo aumentar ou diminuir seus tamanhos. Não sinto frio, fome, calor ou sede e assim fico imune ao tempo e as variações climáticas. Isto sim é liberdade. Nem o vento, este arrogante agente modelador da superfície terrestre, pode comigo. Eu giro ou entorto quando uma árvore é atingida por ele, mas nada me acontece e isto deve irritar muito o vento.

Sombra4

Sei que sou apenas uma zona escura formada pela interceptação da luz que ilumina um objeto, mas isso não me entristece. Nem mesmo o fogo pode comigo, porque ele passa e eu sigo ali fazendo, inclusive, a sombra dele e da fumaça que se desprende dele, sarandeando como um fantasma negro pelo chão parecendo querer agarrar a branca emanação da queimada. Chego até provocar escuridão na terra durante o dia, quando a lua resolve se intrometer na trajetória do sol, criando o que chamam de eclipse do sol. Este é um momento especial para mim, o de maior magnitude quando consigo sombrear uma grande área do planeta que deveria estar ensolarada, por ser dia. Pouco depois, sou evolado pelo afastamento da lua e tudo volta ao normal. Tem coisas que não precisam ser, apenas aparecer. Assim me sinto, porque não sou, mas estou.

Sombra

logo retangular

Atenção:
É proibida a reprodução, total ou parcial, dos conteúdos e/ou fotos, sem prévia autorização do autor.