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O encanto dos cervos

O encanto dos cervos

Nas nossas matas de pinheiros aqui da Região das Hortênsias, onde não tenha muitos cães e caçadores, é possível ser presenteado com encontros como este que tive. Ver uma fêmea de veado-mateiro desfilar tranquila perto de mim, sem susto e confiante, mostra que podemos sim conviver de alguma forma com nossos parceiros de vida neste planeta. A mata de araucária não produz só madeira e lenha, pinhão ou goiaba-serrana. Ela alberga inúmeras criaturas que dependem dela para comer, abrigar-se e se reproduzir, bem como fazemos. Somos todos habitantes deste lugar.

 

Se um não senta, outro assenta

Há uma lei na natureza tão antiga quanto a vida na terra, que comanda o uso e utilização dos espaços (nichos). Se olharmos com atenção, não há espaços vazios nos ambientes, sempre tem alguma planta, líquen, bactéria, fungo ou outro organismo presente ali. Se um sai, outro entra. O banco da foto é um exemplo. Abandonado sob uma árvore, ninguém sentando nele há muito tempo, bromélias, líquens e musgos assumiram o espaço, sentaram nele e se espalharam. O que não serve para um, serve para outro. Lei antiga e permanente.

 

Garras na terra

As raízes e o caule do umbuzeiro são tão impressionantes que despertam curiosidade e se tornam elementos diferenciados no campo onde medram. Como ancoras em forma de garras, as raízes afundam no solo e se espalham pelo solo acima, criando abrigos e figuras curiosas com suas placas e dobras que se espalham prá lá e prá cá, como se estivessem procurando por algo, talvez pelo melhor local para ancoragem, ou para indicar ao estancieiro o melhor lugar para enterrar suas moedas de ouro.

 

Uma viúva colorida

Quando falamos de viúvas lembramos dor, luto, preto e silêncio. Pelo menos este era o hábito e sentimentos no passado. A saíra-viúva veio para desmistificar este adágio, vestiu-se de cores imponentes sem esquecer do preto. Esta pequena e graciosa ave nativa disputa com outras as frutas e sementes dos nossos pomares, podendo ser vista com relativa facilidade nos caquizeiros durante o outono, quando os frutos maduros se expõem mais devido à queda das folhas provocadas pela estação fria que se aproxima.

 

Vida dependurada

O cravo-do-mato é uma plantinha nativa que vive sempre presa em alguma árvore, arbusto ou onde mais puder se prender. Muitos a confundem com parasitas, o que é uma inverdade e a prova disto é que ela se instala com muito sucesso sobre rochas, mourões de cercas e até em fios de energia elétrica. Suas flores, em forma de tubos, são de uma beleza ímpar e o néctar que oferecem atrai beija-flores de profusão. Dependurar-se para viver é também uma boa forma de se estabelecer no ambiente evitando ou diminuindo a competição pelo espaço.

 

Broca hidráulica

No leito do Rio Camaquã encontrei este buraco arredondado com um pouco de água e muitas pedras polidas no fundo. Quando o rio enche cria uma corrente em redemoinho no local e as pedras do fundo vão girando sem poder sair dali, criando um processo de desgaste tanto delas como das paredes do buraco. A cada cheia do rio, mais um pouco de atrito e o buraco se alarga, se afunda e as pedras pequenas se transformam em areia que, por mais leve, é arrastada para fora e levada para a praia mais próxima. É a dinâmica da broca de água, que muda o leito e cria cenários impressionantes na época de vazante.

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