Blog Andando por Aí

Eu sou uma batata

 

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Sei que nasci nos Andes peruanos, lá naquelas montanhas que são hostis à vida na maior parte do seu território. Durante a minha evolução, descobri que uma forma melhor de sobreviver, naquele ambiente, era armazenar minhas energias e material nutritivo para a próxima geração em partes do meu caule, no abrigo do solo, na forma de pequenas bolotas de formas, cores e tamanhos variados. Os Incas, nome dos homens que moravam naqueles lugares, logo descobriram a minha importância como alimento e começaram a me cultivar, selecionando sempre aquelas de mim que mais produziam e melhor gosto tinham.

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Há mais de seis mil anos os homens me tratam bem, plantando e cuidando para que eu cresça saudável e produza meus cobiçados e nutritivos tubérculos e isto criou uma parceria forte entre nós. Fui alimentando os povos andinos do Peru e região, sendo utilizada também como moeda de troca por outras coisas, o que me fez expandir pelos arredores, sempre levada pelos homens.

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Para mim o mundo era ali nas montanhas, e nada mais havia. Foi quando chegaram outros homens, mais fortes, montados em animais grandes e poderosos, com novas armas e costumes. Gostaram logo de mim e acabaram me levando para lugares muito distantes, que eles chamavam de Europa e lá me espalharam pela Espanha, Portugal, Inglaterra e outros lugares. Vi que o mundo era bem maior do que eu imaginava e, assim, fui ganhando novos amigos que também gostavam de mim de modo que continuei sendo cultivada e cuidada para bem crescer e lhes dar de comer.

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Papa é o meu nome original, que me foi dado pelos Incas lá no Peru e, quando ganhei o mundo, fui recebendo outros nomes, como batata, potato, pomme de terre, Kartoffel e muitos mais. Assim, me expandi pelo mundo, conheci outros alimentos importantes que também eram, há tempos, já cuidados pelos homens para seu alimento e plantados em áreas próximas das minhas, como o trigo, arroz cevada, milho, mandioca e vários mais.

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Sigo até hoje alimentando os povos nativos dos Andes, aqueles que me descobriram e me valorizaram como alimento preferencial e sou, passados milênios, o terceiro alimento mais consumido no planeta, perdendo apenas para o trigo e o arroz. Posso afirmar que esta parceria com diferentes povos foi fundamental para minha melhoria e expansão pelos continentes afora, sendo eu uma planta muito valorizada e apreciada. Dizem que sou escrava deles, que sirvo de alimento e mantenho suas famílias, mas, na verdade, os escravos são eles, pois me plantam, cuidam, adubam e irrigam para que nada me falte e ainda me levam para outros lugares onde, sem seu árduo trabalho, nunca poderia chegar. Sinto-me uma rainha, bem tratada e cuidada e, em troca, apenas cedo meus tubérculos que oculto no solo negro, garantindo que a energia, ali guardada, seja distribuída a todos. Parceria produtiva, esta!

Encontrando uns bichos

bichosGraxaim-do-campo, pequeno predador nativo

Um dos meus hábitos preferidos é andar por aí e encontrar animais na natureza, ou na cidade, ou nas estradas. Não importa, o que me vale é o encontro, a surpresa de ambos. O bicho, por me ver, interrompe sua rotina e assume um comportamento de fuga ou, com menos frequência, fica parado me olhando e tentando identificar o potencial de perigo que represento. Eu, ao contrário, fico quieto e tento “disfarçar” a minha presença, coisa totalmente inútil, mas que me dá uns segundos até conseguir armar a câmera e fazer um registro. Tudo muito rápido, emocionante e tenso, algumas vezes. Ver um graxaim pelo campo ou dentro da mata andando atrás de parceiro ou de alimento, faz com que me reporte ao mundo dele e tento entender o bicho. Caçar para comer é uma tarefa árdua e exige conhecimento, faro, ouvidos afiados e olhos adaptados a pouca luz. Isso me encanta e por poucos minutos assumo o papel dele, do caçador, do sobrevivente e sinto um pouco toda a angústia e dificuldade por que passa este pequeno predador.

A Cordilheira dos Andes

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Uma gigantesca cadeia de montanhas que percorre de cima a baixo a América do Sul. Assim é a Cordilheira do Andes que começa na Venezuela e se estende mais alta ou mais baixa, mais larga ou mais estreita pela América do Sul até o final do continente, formando o maior conjunto de montanhas contínuas do planeta com mais de 7 mil quilômetros de extensão, tendo como ponto culminante o Aconcágua, na Argentina, uma montanha que se eleva a 6.960 metros, a mais alta do Hemisfério Sul e só superada pelas gigantes do Himalaia

Eu sou a sombra

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Não tenho cor nem textura, meu tamanho e minha forma sempre estão mudando de acordo com a posição da luz no objeto a minha frente, e isto me faz diferente de tudo e de todos. A noite eu sou plena, cubro a metade do planeta e ainda posso aparecer quando tem lua cheia ou fogo, ou outras luzes que os humanos produzem. De dia eu ando por tudo, não respeito cerca, muros, vales, encostas, ruas ou janelas. No campo eu entro em todas as dobras do terreno, independentemente de sua declividade ou aclividade, e reproduzo sempre as formas das coisas que estão na frente da luz. Com um pinheiro solitário no campo, por exemplo, eu faço uma dança lenta com a figura projetada ao longo do dia, espichando pela manhã, diminuindo conforme chega próximo ao meio-dia e me alongando novamente para o outro lado, à tarde, até que o sol desapareça. Posso dizer que sou mais feliz do que o pinheiro, porque eu não sou fixo, eu giro, cresço, estico e encolho num só dia, como se fosse um pinheiro elástico. Já ele só pode me olhar e pensar: como eu queria fazer o que a minha sombra faz, como eu queria ir lá longe aonde ela vai cedo de manhã e no final da tarde”.

Eu sou o vento

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Sou invisível mas todos os seres que habitam este planeta sabem da minha existência, seja por uma brisa refrescante numa beira de praia ou rio, seja pelo visual que exibo das nuvens sendo por mim arrastadas e deformadas, assumindo mil formas, seja por uma janela que faço bater contra a parede da casa, seja pelas folhas mortas que arranco das árvores e jogo nas calçadas e terrenos, seja pela violência de quando me transformo em furacão e arraso tudo ou quando acelero a chuva que era calma e a transformo em tempestade. Sempre estou em algum lugar deste planeta. Assopro as águas quentes dos oceanos tropicais, ou as águas geladas dos polos criando ondas de todos os tamanhos que desafiam os mais hábeis navegadores ou alucinam os intrépidos surfistas.

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 Eu sou simplesmente o ar em movimento. Quando sou aquecido fico mais leve e me expando, corro para cima empurrando o ar mais frio para baixo. Isto cria as correntes que são bem conhecidas e aproveitadas pelos homens. Primeiro com seus navios a vela que eu empurrava ou, quando estava com preguiça, os deixava nas calmarias de um oceano sem fim. Como eu nunca paro, hora estou lá na Antártida esfriando e correndo pelos sem-fim de gelo do continente, ora me dirijo para o equador trazendo um pouco de alívio nas temperaturas do norte, o que são chamadas de frentes frias. Quando esquento muito no equador, devido ao sol escaldante e a alta temperatura que o solo atinge, subo e me desloco para o sul e esquento tudo e todos. O ar frio não gosta do ar quente, e vice-versa. Quando nos encontramos, sempre tem problemas. O choque das nossas duas massas gera descargas elétricas, raios, trovões e chuvas, assustando a todos.

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Também sou muito camarada quando quero, e me transformo em um vento amigo que refresca a beira mar ou no calor das cidades, quando entro pelas janelas e porta para arrancar de lá o calor guardado. Aí sou o vento refrescante, amigo e desejado. Também as plantas me desejam assim, calmo, mas constante, pois elas me utilizam para transportar sementes, limpar folhas mortas, levar pólen para lá e para cá.

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Quando resolvo ser destrutivo, não há o que me ataque. Derrubo, desloco e faço voar o que estiver pela frente, criando grandes confusões e desgraças. Consigo, sem muito esforço, arrancar areia do deserto do Saara, na África, e jogá-la sobre a floresta amazônica, na América do Sul. Transporto aranhas e insetos de um lado para outro da Cordilheira dos Andes. Posso me travestir de micro explosão, furacão ou tornado e faço grandes estragos por onde passo. Sou poderoso, antigo como este planeta, vi tudo surgir e se transformar por aqui. Ajudei a formar a geografia, transportando terra de um lugar a outro e os seres que aqui habitam aprenderam a me utilizar para seu benefício. Mas até hoje tem uma coisa que não consigo atingir com a minha força: é a luz. Esta energia é transparente a mim, como eu sou a ela, não sofre nenhuma deformação pela minha passagem. Destruo ou construo coisas na paisagem e lá está ela, igual sempre me olhando e pensando: tu pensas que é grande. A luz é o meu desafio, ainda não aprendi como balançar e atormentar suas cores. Mas ainda não desisti.

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Churrasco no mato

 churrasco1Churrasco de mato, com algumas adaptações

O churrasco gaudério nasceu no campo, nos capões de mata onde os tropeiros e gaúchos errantes preparavam sua comida. Espeto de pau, carne recém carneada de alguma rês ou ovelha, sal grosso e brasa de alguma lenha que por ali havia. Assim era o churrasco da gauchada que vagava ou levava tropas de um lado a outro no nosso incipiente Rio Grande. O hábito se disseminou e hoje o churrasco adquiriu novos patamares, sendo o centro das atenções de eventos de médio e grande porte. Assar todos os tipos de carnes, embutidos e inúmeras variações com morangas, pimentões, abobrinhas, tomates e mais o que possa combinar com os assados, virou uma atração. A costela, assada com muito vagar, ganhou status e disputa posição com a picanha e a maminha.

Sou uma bromélia

Bromélia

Vivo apoiada em um galho de pinheiro porque eu nasci aqui. Sei que o pinheiro não se importa que eu me prenda em sua casca, já que nada lhe causo e ainda o embelezo. O pinheiro não tem flores como eu, com pétalas coloridas que atraem insetos e beija-flores, então eu ajudo a embelezar seu tronco e galhos. Quem me trouxe aqui foi o vento. Vim como uma minúscula semente arrastada de minha mãe que, infelizmente, não conheço, mas deve ser alguma destas outras bromélias que aqui estão no mesmo pinheiro e são mais velhas. Cheguei e me prendi numa dobra da casca, bem apropriada para eu nascer. Ali me fixei com pequenas raízes como ancoras, e fui crescendo e desenvolvendo minhas folhas, que são duras e finas em forma de fitas.

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