Blog Andando por Aí

Um novo livro

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O vício é que nem sarnoso, nunca para e nem se ajeita. Estes versos, extraídos do poema “Bochincho” - de Jaime Caetano Braun, retratam, de certa forma, este meu hábito de escrever crônicas para o jornal Nova Época há 12 anos. O método, que encontrei para estimular a inspiração de fotografar e escrever, tem me levado a diversos lugares. Em 2021, passada a fase crítica da pandemia de covid, já recuperado e novamente sedento de novos horizontes, iniciei um novo livro sobre o vale do rio Silveira, localizado em São José dos Ausentes.

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Durante um ano, trilhei da nascente até a foz, retratando o que via e sentia. Foram 52 crônicas ilustradas descrevendo campos nativos e florestas de araucárias, matas de pinus e lavouras de batatas e brócolis, pecuária de corte, leiteira e o turismo. Contei histórias locais, mostrei detalhes de plantas e de animais encontrados nas caminhadas solitárias através do campo aberto, em leitos de águas rasas e limpas e de trilhas antigas de madeireiros e tropeiros. Mostrei os principais pontos de destaque da geografia do vale e suas pousadas tradicionais dedicadas ao turismo rural e à pesca de trutas. Todo o material é inédito e retrata uma janela no tempo e na paisagem, com destaque ao rio Silveira e seus principais afluentes.

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O material está pronto para ser enviado à gráfica, necessitando ainda de parte dos recursos para a impressão. Quem estiver interessado em ser um apoiador desta nova obra, deixando nela sua marca impressa, pode fazer contato diretamente comigo pelo whats-app 54- 999985488. A previsão é de fazer o lançamento no início de junho, tanto em Canela como em São José dos Ausentes, mesma ocasião em que as cotas dos exemplares serão entregues aos apoiadores e patrocinadores. Participe e permita que este novo documento seja materializado e gere, através da venda, recursos para outro projeto, já escrito, esperando para ser iniciado. O vício é mesmo como cachorro sarnoso: impossível sossegar. 

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O pão e a história do homem

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O livro Seis mil anos de pão – a civilização humana através de seu principal alimento de Henrich E. Jacob, é instigante e me fez repensar atentamente os conceitos de Ecologia e sobrevivência das espécies, sejam plantas ou animais, que vivem em diferentes ambientes (ecossistemas) do nosso planeta. Como biólogo, não deveria estar surpreso pelo fato do suprimento de proteínas a um povo, ou a qualquer espécie, ser o seu valor maior. Mas a maneira envolvente e brilhante do autor sintetizar seis mil anos de trajetória da humanidade, sendo o trigo o principal responsável pelo crescimento, manutenção e queda de grandes impérios, assombrou-me.

Eu sou a macela

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Sou pequena, amarga e amarela, uma erva nativa dos campos do sul onde me distribuo entre as gramíneas e trevos, disputando sempre aquele precioso sol que permite a vida. No final do inverno, quando o fogo galopa pelos pastos secos, entrego meus ramos a ele, mas mantenho as raízes bem vivas e prontas para o ressurgimento na primavera. Também deixo sementes, lançadas pelos generosos ventos do outono. Elas ficam, ali, deitadas no solo, escondidas das labaredas, prontas para germinarem ao final das chuvas de agosto.

Eu sou a pedra

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Sou dura e fria, mas já fui mole e quente. Vivo aqui, na serra gaúcha, e me chamo basalto ou pedra-ferro. Vim do interior da terra, lá onde o calor é tanto que tudo se derrete e se mistura num caldo vermelho, fumegante e inquieto. Num tempo passado, há muito ocorrido, a pressão aumentou tanto que sai em forma de jatos e de caudais, parecendo rios de fogo, escorrendo e queimando tudo que via pela frente. Andei, me espalhei até resfriar um pouco para que ficasse mais sólida, e parei até endurecer totalmente. Isto levou bastante tempo, o suficiente para que meus cristais se unissem e me tornasse forte o suficiente para atravessar os tempos. Para mim, milhares de anos não significam nada, pois sei que minha idade é de aproximadamente 170 milhões de anos.

O calendário da natureza

Calendário2Chuva-de-ouro
O verão deste 2024 está terminando e com ele, os ciclos de calor e frio, chuva e estiagem, cerração e chuvisqueiro. Uma coisa, porém, chama a atenção quando ando pelas ruas de Canela, com aquele passo de quem não tem pressa e a atenção concentrada nas cores deste final de estação. Escondida entre as araucárias, ou exuberante nos pátios, praças ou terrenos baldios, a chuva-de-ouro (Senna multijuga) exibe-se como ninguém nesta época. Suas pequenas pétalas amarelas explodem juntas pintando a árvore de um dourado chamativo, atraindo olhares e insetos para suas flores. O chão, ao pé desta planta, fica gradativamente colorido como ela, quando se acumulam milhares de pequenas pepitas que, agora, vão atrair os recicladores, como os fungos e outros insetos, e fechar o ciclo natural.

O chimarrão

Mate1Mateando,  ao amanhecer, no Morro dos Gaiteiros

Tomar um chimarrão bem cevado pela manhã, ou no final da tarde, é um hábito que quase todos os gaúchos cultivam. Ele agrega as pessoas e cria laços atávicos com a terra natal e sua cultura, estejam os mateadores longe ou perto do pago. A erva-mate, planta utilizada para preparar a bebida, era há muito conhecida pelos índios guaranis, quando da chegada dos europeus. Nativa da América do Sul, foi batizada cientificamente de Ilex paraguaiensis por um naturalista francês chamado Auguste de Saint-Hilaire, em 1820, durante uma viagem que empreendeu ao sul do Brasil, quando teve contato com a planta ainda desconhecida pela ciência. Ele passou pelo nosso Estado em 1823 e seu livro “Viagem ao Rio Grande do Sul”, com todo o roteiro e os incríveis relatos da vida na época, é um clássico da literatura de viagens científicas.

Foi fácil e rápido, aos espanhóis e portugueses, incorporar o hábito de tomar esta infusão e assim, lentamente, estabeleceu-se uma das primeiras agroindústrias ervateiras comandada principalmente pelos Jesuítas na região missioneira. Foram eles que desenvolveram técnicas para o cultivo comercial desta preciosa planta e descobriram, entre outras coisas, que nos primeiros anos de cultivo as mudas deveria permanecer à sombra. Outro truque foi o da quebra da dormência das sementes, que faziam dando os frutos maduros para as galinhas e depois coletavam as sementes nos seus excrementos. O estômago mecânico destas aves domésticas, a moela, agia como uma lixa sobre as duras cascas das sementes, deixando-as prontas para a germinar.

Mate2O fruto da erva-mate

A maioria das pessoas, que tem o hábito de matear, não conhece a árvore que produz a infusão e isso constatei quando trabalhava no Parque do Caracol. Lá, tem vários exemplares desta árvore e eu observava o espanto das pessoas quando liam a placa que as identificavam. A primeira reação das pessoas era de arrancar uma folha, esmagá-la entre os dedos e cheirar. Como a folha verde não exala o cheiro de mate, ao contrário da folha desidratada e socada, algumas duvidavam da veracidade da informação contida na placa.

Mate3A folha da erva-mate

Outro dado interessante é que esta espécie tem sexos separados. Isso mesmo. Existem árvores com flores masculinas e árvores com flores femininas e só estas produzem frutos. Este fruto tem um gosto semelhante ao da fruta do café e é muito procurado pela fauna, como o sabiá-laranjeira, sanhaçu-cinzento, pombas e outras aves. Ao ingerirem, acabam dispersando as sementes através dos excrementos e isto faz com que ela colonize novas áreas.

MateMateando na Estância Tio Tonho, ao amanhecer

Esta infusão quente é um grande legado cultural, que devemos aos índios guaranis e à natureza, tão importante que a erva-mate foi eleita a árvore símbolo do Rio Grande do Sul e, o chimarrão, a bebida. Sabiás e sanhaçus não tomam mate mas plantam a árvore, sem o saber, e por isso acho que devemos, a eles também, um saludo especial.

A cor e o calor da pimenta

 dedo de moçaPimenta dedo-de-moça

 

A pimenta é a rainha da mesa. Provoca euforia ou desconforto, mas nunca passa despercebida. É um dos ingredientes mais utilizados na culinária, emprestando sempre aquele sabor ardido e quente, mais ou menos acentuado, dependendo do tipo e da quantidade usada. Com sua cor vermelha intensa, verde ou amarela, compõe pratos deliciosos e picantes. Faz estalar os lábios e amortecer boca e língua. Traz aquele prazer oculto e mágico que só a capsaicina, substância mágica presente, em maior ou menor concentração, nas sementes e frutos das diversas espécies, pode proporcionar. Substância ardida, que, ao entrar em contato com a mucosa bucal, provoca uma ação rubefaciente, ou seja, aquela sensação de ardência e calor gerada pelo aumento de circulação sanguínea na área.

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