Blog Andando por Aí

Os cânions e os urubus.

Cânion da Coxilha com a visão do litoral de SC

Um cânion, por definição, é um vale com profundidade variável quase sempre com um curso d’água percorrendo o seu interior, podendo ter suas margens nuas ou cobertas de vegetação. O rio que percorre o desfiladeiro é um dos principais responsáveis pela escavação do vale ao longo dos milênios, aproveitando-se a água de alguma falha do terreno e de rochas mais frágeis, desgastando-as e abrindo caminho com a calma e persistência da água.  Olhando com atenção os paredões de nossos cânions aqui do Rio Grande do Sul, percebo o trabalho permanente e incansável da água e dos deslizamentos de barrancos provocadas pelos trovões durante os fortes temporais, que fazem tremer o chão desestabilizando as encostas fragilizadas. Estes desmoronamentos laterais vão alargando o vale e o material acumulado vai sendo levado adiante pela água, rolando e quebrando as rochas e produzindo seixos polidos e areia que acabam se depositando nas várzeas da Planície Costeira em Santa Catarina. É a dinâmica da natureza.

Tirando este detalhe técnico, olhar a paisagem da borda de um cânion gera uma sensação de águia, aquela que me permite, mesmo sem ter asas, voar por todo o cenário sem esforço, só na contemplação. Posso ficar muito tempo assim, imaginado manobras, rasantes e panorâmicas permitidas apenas para aqueles que podem voar ou, como eu, delirar consciente diante da paisagem.

Aqui em Canela, e em toda a região, existe o urubu-de-cabeça-preta, uma espécie comum que pinta de preto o céu azul com seu voo planado desenvolvido para que fique observando o cenário quase sem esforço. Estas aves negras bem conhecem os nossos cânions e encostas, e lá buscam as correntes ascendentes de ar quente e pegam uma carona para subir e planar por horas na imensidão do céu, graças a sua envergadura de asas e seu desenho aerodinâmico. Eles sobem sem muito esforço, para procurar por carcaças em estradas, campos ou mesmo no interior de florestas. Fico imaginando o visual que um urubu tem ao planar pelas bordas do Lage de Pedra, do Morro Pelado, do vale do Caracol ou da Ferradura, do cânion do Itaimbezinho, do Monte Negro ou da Fortaleza.

Casal de urubu-de-cabeça-preta na borda do cânion Monte Negro

Eles fazem seus ninhos em frestas e gretas de penhascos inacessíveis, criando com relativa segurança seus poucos filhotes a cada ninhada. Provavelmente os urubus surgiram na terra depois dos cânions, mas logo aprenderam a tirar proveito de suas correntes quentes e de seus paredões que lhes oferecem poleiros, como se fossem púlpitos, e pequenas cavernas para seus ninhos. Os cânions, por serem mais velhos, abrigam os urubus em seu belo cenário, além de franquear suas escarpas, o ar quente ascendente e sua história.

A nossa paisagem natural

Araucária centenária localizada na entrada da cidade de Canela, RS. 

Falar da paisagem natural da Região das Hortênsias é um exercício que remete, necessariamente, aos floridos maciços de hortênsias de início de verão que se espalham por barrancos das estradas, pelas praças e jardins das duas principais cidades da Serra Gaúcha. Poucos sabem, talvez, que a nossa paisagem natural está muito longe destes estereótipos que pintam e embelezam nossas áreas verdes urbanas e periurbanas. Na verdade, nossa paisagem natural nada, ou quase nada, tem a ver com o que vemos nas cidades hoje, uma vez que houve, por diversos motivos, uma substituição gradativa daquilo que existia em termos de flora, e mesmo de fauna, por novos elementos trazidos pelos colonizadores recentes. A hortênsia talvez seja, depois dos gramados impecáveis e das multicoloridas flores exóticas que adornam as ruas, calçadas e casas das cidades, o ícone destas mudanças do elemento natural da paisagem. A abundância e beleza de suas floradas de início de verão, são tão atraentes que acabaram dando nome próprio para a região, mesmo que sua origem geográfica esteja no longínquo oriente, em algum lugar da China ou Japão.

Florada de Cipó-de-são-joão, uma planta nativa bastante empregada no paisagismo urbano

Existem poucas cidades que eu conheço, e são muito poucas mesmo, que mantém em suas áreas verdes e jardins, uma parcela daquela vegetação original do local onde a zona urbana se desenvolveu. Por que isso? Simples: as plantas nativas e selvagens de um local, muitas vezes são menos visíveis e menos atraentes pelas suas flores do que aquelas que há centenas de anos são melhoradas pelos especialistas em produção comercial de flores. Assim, como na agricultura, vão imperando nas cidades aquelas plantas e animais mais bonitos, coloridos e que encantam as pessoas. Já são bem conhecidas as flores de inverno, como o amor-perfeito – a flor que representa o amor ideal, aquele romântico e perpétuo manifestado através de suas cores e formas, é uma planta consagrada que veio de algum lugar da Europa. As flores de verão, como a flor-de-mel com seu perfume doce, derivada de linhagens selvagens das Ilhas Canárias e Açores, ou as coloridas e globosas tagetes, vindas do México, estão sempre presentes nos jardins e canteiros de ruas de nossas cidades. Algumas de nossas plantas nativas, de tão belas, perfumadas e coloridas, também ganharam melhorias genéticas e assim, como as outras, espalharam-se pelo mundo. O brinco-de-princesa é uma delas, já encontrada na forma de boas mudas em floriculturas da região.

Nossas plantas nativas são mais rústicas, com floradas mais discretas e com uma beleza mais a ser descoberta do que apreciada. Uma das exceções é o Cipó-de-são-joão, um cipó nativo que florece abundantemente no inverno. Um ícone que resiste ainda, mais pelo tamanho e imponência do que pela florada, que é discreta, é a araucária. Esta extraordinária árvore tornou-se emblemática na paisagem, mesmo na cidade, como se fosse um dos últimos baluartes daquilo que temos de original na paisagem, resistindo a madeireiras, leis restritivas, raios, tornados e outros inimigos naturais. Ela, mais do que muitos outros elementos da arquitetura ou da população que aqui vive, é uma identidade local, um elemento nativo da paisagem que a torna identificada, uma vez que pertence naturalmente ao lugar.

A água e o seu caminho.

Rio Silveira, São José dos Ausentes - RS

Este líquido transparente e fluido que circula sem barreira, mas com regras definidas, é quem permite a vida como a conhecemos em nosso planeta. Sem água, sem vida. Com um corpo amorfo, molda-se sem constrangimento ao lugar onde se encontra, seja em forma de uma gota na ponta de uma folha, prestes a ser trazida para o solo pela gravidade; seja pelo aspecto de um espelho em um lago de montanha que preenche uma depressão do terreno; seja com aquele aspecto mutante de um rio que corre por um desfiladeiro; ou ainda disfarçado de vapor, enfeitando o azul do céu com seus desenhos aleatórios de nuvens efêmeras ou densas e ameaçadoras.

A força que a gravidade exerce sobre todos na terra é a principal responsável pelos movimentos dos rios, que são puxados dos lugares mais altos de montanhas ou serras, para os lugares mais baixos até o nível zero de altitude, que é o mar, onde todos os rios terminam. Neste caminho, da nascente à foz, a água de um rio se converte em testemunha da geografia do local, em mensageiro que leva solo e detritos de um lugar a outro. Expulsa pela pressão das entranhas da terra, a água de uma nascente vai saindo da escuridão de cavernas e reservatórios subterrâneos, onde pode ter passado milhares de anos e, quando finalmente sai para a luz, começa uma corrida cheia de obstáculos formados por lajeados, cânions, rochas, troncos, barrancas e mais o que se contrapor no caminho. Assim a água vai surgindo e seguindo o caminho marcado pela via mais fácil, que nem sempre e a mais curta, ditada sempre pela lei de contornar os obstáculos. Isso determina a forma irregular dos rios, com curvas e meandros que, para a engenharia humana pode ser inimaginável. A linha reta na natureza é desprezada em detrimento da sinuosidade. Um rio retilíneo seria um aborrecimento, como uma estrada longa e sem curvas. Uma curva de rio indica que ali ele teve que contornar um obstáculo, e achou a melhor forma para seguir andando. Olhando-se um mapa onde tenha o desenho de um rio, percebe-se bem os meandros, voltas e contravoltas que a água teve que explorar para achar a saída. É como um labirinto que, ao final, chega ao mar.

Oceano Atlântico, praia de Arroio Teixeira, RS

A vida é muito semelhante a um rio. Nascemos pequenos, frágeis e vulneráveis. Aos poucos vamos crescendo e nos tornando mais fortes, como quando o rio começa receber afluentes e engrossa o seu volume e poder. Não a gravidade, mas a necessidade de sobrevivência, nos faz seguir os obstáculos da vida. Quando o rio chega ao mar, mistura suas águas doces e carregada de sedimentos trazidos de montante, com a imensidão salgada do oceano, indicando o fim de uma parte da jornada. Quando morremos somos como um rio que entra no mar. Os corpos se desmancham, e os componentes retornam ao ambiente, como a água do rio se mistura ao sal do mar. O que era um corpo humano, vai ser transformado em partes de uma planta ou de outros animais, seguindo a lógica de que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. O mesmo acontece com a água que, lentamente, será puxada para as nuvens pela força da evaporação, sendo depois jogada de volta aos continentes como chuva, realimentando o sistema. Tudo está conectado.

Um ano no Topo do Rio Grande – o livro.

Pico do Monte Negro e cânion do mesmo nome. Cachorrada companheira de caminhadas.

Quando criei o projeto Um Ano no Topo do Rio Grande, em 2016, dei vazão a uma ideia que fermentava há muito tempo na minha mente. Queria conhecer melhor uma das regiões que considero mais icônica do nosso Rio Grande, mais alto, frio e fascinante: o Monte Negro e seus arredores em São José dos Ausentes. Assim nasceu o projeto e após conseguir apoios importantes, iniciei o trabalho de retratar aspectos da paisagem, fauna, flora e dos fazendeiros que habitam a região.  

Trabalhei durante as quatro estações registrando as mudanças que eu percebia nos diversos ambientes que visitava, tendo produzido no final um impressionante arquivo de fotos e de textos, sendo alguns publicados no jornal Nova Época e outros ainda inéditos. Reunimos tudo isto num livro que deveremos lançar em abril, contando em detalhes cada uma das quatro estações do ano e suas características. Textos em forma de crônicas ricamente ilustradas, tecem um pano de fundo para os acontecimentos que vão se desenrolando a cada mês, a cada estação.

Hoje olho para a foto que ilustra este texto, tirada durante o trabalho de campo em 2016, e me vejo apontando para o Topo do Rio Grande – o solitário Monte Negro que se ergue a partir da borda do cânion homônimo. Um pouco para cá, um abismo de mais de mil metros de profundidade; um pouco mais para lá ergue-se uma crista de 1.397 metros acima do nível do mar. Um lugar espetacular, cheio de surpresas e encantos, seja pela paisagem mutante, que vai trocando de cores e formas ao longo do ano, seja diversidade de plantas e animais que por ali vagam.

Este livro poderá servir de consulta para amantes de aventuras na natureza, uma vez que as fotos de plantas e animais são identificadas com seus nomes locais e os nomes científicos, para aqueles que desejam um conhecimento mais profundo sobre cada um. Será um livro alegre, leve e de fácil leitura, que tentei fazer se parecer ao máximo com a experiência que tive ao realizar o trabalho. Muitas horas de escrita, pesquisa, caminhadas, fotografias, novas amizades e muito carinho e atenção recebido pelos meus anfitriões da Estância Tio Tonho e da Pousada Monte Negro. Aguardem um livro para ser lido com vagar, saboreando textos e fotos, e tenham certeza de que foi o melhor que consegui reunir com a minha experiência de Biólogo de campo, sempre dedicado a conhecer a natureza e socializar as informações, seja na época em que era professor, ou agora através de minhas crônicas semanais e caminhadas com grupos. Aguardem que, tenho certeza, valerá a pena.

Pela beira do mar

Socó-dorminhoco

Um passeio pela beira da praia pode trazer um grande prazer para aqueles que se dedicam a este esporte de baixo impacto, muito praticado por todas as idades e por aqueles que desejam apenas relaxar e ver coisas diferentes daquelas que são vistas diariamente nas caminhadas por nossas cidades de origem. Andar descalço na areia ou na água rasa do vai e vem das ondas estimula os sentidos, cria um contato direto e estreito com Gaia através das solas nuas, molhadas, salgadas e massageadas pela areia da zona de maré.

Garças

Gosto de andar ali nas primeiras e nas últimas horas do dia, o que me faz escapar do calorão das horas do entorno do meio-dia e me oferece, de brinde, uma luz extraordinária que deixa tudo e todos mais destacados, dourados e alegres. Para a fotografia são os dois períodos do dia que melhor se apresentam para tomadas de paisagens e de alguns detalhes. Ando sempre armado e não desprezo nenhum detalhe que possa me trazer aquele prazer secreto de uma foto boa, as vezes único. Se chego muito cedo, sou brindado com a intensa cor laranja da aurora. Se fico até mais tarde, aprecio a incrível paleta de cores do ocaso.

Pirupiru 

Ando com vagar e a fauna alada me chama a atenção. Vejo que há lugares onde se reúnem garças brancas e outras espécies de aves litorâneas, como o pirupiru e o socó-dorminhoco. As garças, alvas, pernaltas e delicadas, ficam nas saídas dos pequenos arroios aguardando os cardumes de peixes que até ali chegam, ou vindos do arroio acima, ou trazidos pelas ondas durante a maré cheia. É uma festa de comilança e disputa pelos melhores peixes. Mais perto das dunas vejo um socó-dorminhoco, com seu porte imponente e comportamento tranquilo, permitindo boa aproximação. Este socó, também conhecido como Savacu, é também um exímio pescador e utiliza seu forte e longo bico com uma agilidade que impressiona. Captura, além de peixes, insetos, anfíbios e até pequenos répteis.  Outra ave interessante é o pirupiru, com seu bico vermelho e patas curtas, andando quase junto da linha de maré, escapando das ondas rasas que lambem a areia e trazem mariscos, tatuíras e pequenos peixes para seu deleite. Assustado, ergue um voo rasteiro pela linha de ondas emitindo seu grito característico que lhe conferiu o seu nome popular: pirupiru...pirupiru....

Fico andando e observando a beleza desta fauna que vaga pelo nosso litoral e penso no esforço diário que enfrentam para conseguir seu alimento, tendo que constantemente escapar das ondas e das pessoas que estão, assim como eu, caminhando por ali.

O vale do Rio Silveira

 

Vale do Ro Silveira

Existe um lugar mágico que encanta e sublima o espírito daqueles que amam o contato com a natureza, local de onde todos viemos e ao qual todos retornaremos. Eu falo de um vale escondido, no final de uma estradinha que também encanta enquanto serpenteia por matas de araucárias e campos dobrados, exibindo alegre os contornos de um rincão que promete muitas surpresas a cada curva vencida. Este lugar é o Vale do Rio Silveira, localizado em São José dos Ausentes, numa região distante cerca de 20 km dos famosos cânions do município.

O Rio Silveira, como todo rio do nosso Planalto, gosta se esparramar pelos lajeados de basalto formando rasos com corredeiras e alguns poços que, no verão, se prestam de forma extraordinária para banhos refrescantes e caminhadas pelos seus meandros. Águas límpidas, frias e convidativas, em alguns lugares se atira em degraus do terreno formando cachoeiras de encantar o mais calejado dos aventureiros. É o caso do Cachoeirão dos Rodrigues, com uma cortina de águas brancas que se dissolve no poço escuro que fica aos seus pés. Ali o banho é garantido, podendo ser de nado ou mergulho devido a sua extensão e profundidade. Descendo mais o rio, encontra-se a pequena Cachoeira do Puma, encaixada entre as rochas negras e recobertas de musgos e líquens. Ela é acessível pela margem direita do rio, através de uma trilha ladeada por dezenas de xaxins que me remete ao tempo dos dinossauros. São exemplares gigantescos que parecem ter saído de um filme de ficção.

Trilha do Xaxim, que leva a Cachoeira do Puma

Hospedar-se ou apenas almoçar em uma das duas mais famosas pousadas do vale, é um prazer quase indescritível. A simpatia e o calor humano que o casal Tonico e Rosane, mais o seu filho Samuel, dedicam a quem vem a sua Pousada Cachoeirão dos Rodrigues, é de encantar e criar instantaneamente um vínculo afetivo. Boa comida, bons quartos de uma casa de fazenda e um cenário mágico, fazem desta pousada uma referência.

Outra pousada encantadora, que se localiza pouco antes no vale, é a Potreirinhos, capitaneada com mãos precisas e carinhosas da dona Nilda e seu marido Chico. Estes dois não medem esforços para bem receber e servir os hóspedes que para aqui se aventuram, saboreando comidas campeiras autênticas e de sabor único. Pois será nesta pousada que ficaremos na nossa próxima aventura no Vale do Rio Silveira, marcada para 5, 6 e 7 de fevereiro. Serão apenas dez participantes e teremos a oportunidade de conhecer lugares icônicos, como o Desnível dos Rios Silveira e Divisa, o Cachoeirão dos Rodrigues e do Puma, o Morro Maracajá e seu entorno de 360 graus de um visual sem precedentes, os mangueirões multisseculares do tempo dos Jesuítas, entre outras atividades.

Ainda restam algumas vagas e, se você se interessou, entre em contato comigo pelo whatsapp 54 999985488 ou veja o informativo em www.vitorhugotravi.eco.br

Cachoeira do Puma, no leito do Rio Silveira

A vida nas árvores

Líquen  Barba-de-velho carregado de água após uma chuva de verão

Viver pendurado nos galhos de árvores, cercas, muros de pedra ou em fios de energia elétrica não é para qualquer um. A vida nestes ambientes exige que se tenha algumas adaptações especiais, como a capacidade se prender firmemente para não ser arrancado pelo vento e de conseguir absorver do ar a água de que necessita. Pense em você morando em cima de uma árvore e que, por algum motivo, não posso descer ao solo. Vais depender 100% da água da chuva. Ainda assim, quando chover, terás que pegar esta água e armazená-la de alguma forma para os momentos de seca. Como fazer isso? Não podemos, simplesmente porque não temos adaptações para isso. Evoluímos no mundo biológico tendo água a nossa disposição nos rios, lagos e nascentes. É só irmos lá e beber. Já outros organismos se adaptaram à vida empoleirada nas árvores, aproveitando a solidez dos galhos e troncos para ali se fixarem e viverem mais perto da luz e da chuva, coisa impossível de se achar no solo escuro da floresta.

Trama de líquen Barba-de-velho com as gotas de água capturadas da cerração

Muitas espécies de líquens, musgos, bromélias e outras ervas se adaptaram de formas diferentes a esta vida aérea e se mantém assim por milhares de anos, simplesmente criando reservatórios de água entre suas folhas, no caso das bromélias, ou absorvendo diretamente a água através de suas células de revestimento, que funcionam como esponjas que se entumecem de água durante uma chuva ou um dia de forte cerração. Quando a chuva se recusa a aparecer por longos períodos, estes organismos malabaristas se ressentem e utilizam mecanismos diversos para economia de água, assim como fazemos em períodos de seca na cidade.  

Viver assim tem vantagens e desvantagens, como tudo na vida. A vantagem de viver empoleirado é que o solo e seus perigos está longe; o vento circula mais e melhor acima do solo e entre os galhos altos; a luz do sol, fonte fundamental para a fotossíntese, é mais facilmente encontrada. As desvantagens também se enumeram: sem acesso ao solo, é impossível retirar água do seu interior, dependendo apenas da chuva e da umidade; o organismo não pode crescer muito, devendo ser de pequeno porte para poder se manter nos galhos e troncos das árvores; quando a árvore, ou algum de seus galhos caem, estes organismos acabam morrendo também devido a impossibilidade de viverem na sombra do chão da floresta.

Assim é a vida. Vantagens e desvantagens andam de mãos dadas em todas as formas de vida no planeta, não havendo aquele negócio de só vantagens, ou só desvantagens. O custo do bem viver reside na habilidade em equilibrar estas duas forças antagônicas.

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