Blog Vale do Rio Silveira

Cogumelos e os pinus

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Cogumelo portini, o melhor

As florestas de pinus que, a partir da década de 1970 começaram a surgir na região do nosso planalto, pertencem a espécies de pinheiros originários de regiões ao norte do México e sul dos Estados Unidos e foram escolhidas pela seu rápido crescimento e boa adaptação ao nosso clima serrano. São florestas de uma única espécie e que, por serem pinheiros, não produzem frutos, apenas sementes que, neste caso, são minúsculas. Estas matas, ao contrário das florestas nativas de araucárias, são quase estéreis para a fauna, não oferecendo alimento devido a inexistência de diversidade e pela característica das espécies de produzirem sementes minúsculas. Hoje elas suprem grande parte da demanda de madeira para a indústria e algumas espécies da fauna local já se adaptaram à sua presença, aproveitando as sementes minúsculas e utilizando seu interior como abrigo.

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Cogumelo lactarios

No solo, densamente coberto pelas suas longas e finas folhas mortas, surgiram muitas espécies de cogumelos que vieram junto com suas sementes, tornando-se um local de busca de algumas espécies realmente preciosas para a culinária, com o famoso portini e o lactários, ambas iguarias de sabores e texturas únicos. Nas minhas andanças por estas matas nos outonos, em busca de algum cogumelo, já observei que os portinis, de gosto agradabilíssimo mesmo crus, já são apreciados por alguns animais que ocorrem por entre estas árvores iguais. A gralha-azul, aqui em alguns lugares, já descobriu o sabor e a palatabilidade desta iguaria e mais de uma vez constatei bandos no solo se refestelando com este cogumelo. Lesmas, formigas e roedores também já são habituais consumidores desta e de outras espécies, sem esquecer que os javalis, no momento que descobrirem estes petiscos, serão os nossos grandes concorrentes.

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Cogumelo amanita

Além dos portinis e dos lactários, há muitas outras espécies de cogumelos que medram nestas matas, como as amanitas, rússulas, suilos e muitas outras que tornam os outonos um pouco mais coloridos dentro destes ambientes de uma só cor. Uma caça aos dourados cogumelos portinis garante, em poucos minutos, boas refeições com aquele sabor diferenciado e gosto silvestre único que exala da preparação de seus caules e chapéus. O alho, dourando no azeite de oliva misturado com ervas seguidas de uma dança de grão de sal por cima, garantem uma viagem gastronômica inigualável que pode ser amadrinhada por um vinho de bom paladar e amigos em volta para falar de tudo, inclusive sobre a diferença do gosto das partes deste cogumelo: “o pé tem uma textura mais firme e o chapéu desperta mais o gosto de algo mais macio, como uma gelatina de sabor atávico”.

Cogumelos comestíveis, madeira, abrigo e alívio na pressão sobre as matas nativas por madeira fazem destas florestas um aliado para a preservação das araucárias e do restante das matas nativas no vale do Rio Silveira e região do Monte Negro. Por isso hoje é possível ver florestas nativas novamente exuberantes, vistosas em seu verde escuro permanente exibido pelas copas únicas das araucárias que, além da beleza, ainda oferta, a cada outono e inverno, suas preciosas sementes que sustentam uma grande cadeia alimentar: o inigualável pinhão dourado. Cada floresta oferece o que lhe compete.  

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