Blog Vale do Rio Silveira

Tempestade no rio

 Cachoeirão dos Rodrigues após grande chuva nas nascente do rio Silveira

Em dias de vento forte as pessoas, os animais e as plantas sofrem de alguma forma com movimentos anormais do ar. Muito vento, enlouquece um vivente; muito vento arranca ou quebra árvores; muito vento faz os animais se entocarem para fugirem dos açoites; muito vento carrega areia e solo fino de um lugar para outro; muito vento transporta aranhas, sementes e insetos com facilidade daqui para lá; muito vento trás ou afasta chuvas; muito vento arranca telhados e derruba postes de energia. Assim é a vida na terra.

Mas como será a vida dentro de um rio? Ali, sabidamente, não tem vento e assim posso pensar que a vida deve ser mais tranquila que fora da água, onde eu vivo. Estando aqui na pousada Cachoeirão dos Rodrigues, onde sigo com o trabalho de campo do projeto Vale do Rio Silveira, deparei-me com esta dúvida hoje pela manhã, quando encontrei o Rio Silveira muito acima do seu nível em relação à ontem. Observando o rio hoje cedo (17 de janeiro), e comparando com a situação de ontem no final da tarde, percebi que o rio não tem ventos fortes, mas tem correntezas igualmente destrutivas. O vento é da terra, a correnteza é da água. Ontem andei muitas horas pelo leito calmo e raso do rio, buscando qualquer coisa que me informasse de seus moradores e pensava com deveria ser tranquilo morar num destes rasos quentes e tranquilos do leito.

Rio Silveira na altura da Pousada Cachoeirão dos Rodrigues, após grande chuva

Hoje a situação se inverteu. Muita água, fruto de uma chuva de quase 100 mm que caiu durante a tarde e noite lá nas nascentes (dados coletados e passados pela da minha amiga Edinaira Lopes), criaram esta situação de um volume incomum do rio e que me levou a pensar nos ventos. Sim, os ventos do rio são as inundações. Elas tem força redobrada e podem arrancar pedras do leito e árvores das margens; podem criar o caos nos outrora remansos calmos e rasos; arrastam peixes, girinos e quem mais estiver pela frente; destrói ninhos de anfíbios, berçários de peixes, tocas de lontras e afugentam as capivaras; arrastam troncos, criam uma maçaroca de galhos, folhas e tudo o mais que desce pelo leito formando uma reboleira de detritos que vai acabar encalhada em alguma curva abaixo; arranca musgos e líquens menos aderidos, esfrega os lajeados arrancando tudo que não está bem fixado; cavouca buracos no leito fazendo uma pedra girar com a corrente criando as panelas redondas e polidas como se fossem feitas por uma máquina.

Corredeiras do Rio Silveira 

Não importa onde estejamos, sempre haverá um momento em que os elementos naturais vão se asseverar, vão mostrar sua força e destruir tudo o que não foi feito com esmero e técnica para suportar o embate. Na terra ou na água, a força da natureza é implacável, seja através do vento ou de uma correnteza repentina mostrando que neste planeta espetacular e único em que vivemos, temos que ter a habilidade mostrada pelos peixes que, nas correntezas, o melhor é se abrigar nos poços mais profundo e aguardar a calmaria, ter a força das fibras que compõe o caule de uma araucária que gira, mas não quebra, ou como fazemos dentro de nossas sólidas casas quando aguardamos apreensivos, a ventania passar. E a vida segue, ora com ventos, ora com correntezas.

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