Blog Vale do Rio Silveira

O mata-burro

Mata-burro de aço 

Quando ando por estradas estreitas, poeirentas ou lamacentas do interior de São José dos Ausentes, daquelas que muitas vezes acabam em sedes de fazendas ou algum ponto turístico, muito afastadas de centros urbanos, encontro porteiras que tem que ser abertas para a minha passagem e em seguida fechadas para que o gado, cavalos e ovelhas não escapem. É um serviço aborrecido quando estou sozinho, mas tranquilo quando levo algum caroneiro que, para “pagar” a carona, faz o serviço de abrir e fechar as passagens. As porteiras de madeira são as melhores, mais fáceis de lidar por serem presas pelas dobradiças, o que torna o serviço mais tranquilo e seguro. Pior são aquelas de arame e que exigem uma certa força e jeito para desprender o fio de cima que segura a trama no mourão. O serviço de fechar é pior, principalmente quando os arames farpados insistem em levar um pedaço da pele dos dedos que, sem a prática dos moradores locais, fazem movimentos errados e forças desnecessárias para prender de volta a cancela e acabam espetados ou riscados por alguma farpa.

Mata-burro de madeira

Tão enfadonho este serviço que foi criado uma alternativa interessante e funcional: o mata-burro. Este dispositivo criativo atende a duas necessidades básicas do fazendeiro: evita o abre e fecha das porteiras e impede a passagem do gado, que teme prender as pernas nas fendas da estrutura. Perfeito. Nas primeiras vezes em que vim para o Vale do Rio Silveira e para o Monte Negro, trazendo meus alunos do Turismo e da Biologia da UCS para aula de campo, havia inúmeras porteiras pelos caminhos até as pousadas Cachoeirão dos Rodrigues e Potreirinhos ou para o cânion Monte Negro, sendo sempre um aluno escalado para o serviço de abre e fecha. Hoje as coisas mudaram para melhor, principalmente para os turistas que não são muito habituados a enfrentarem porteiras, e todos os acessos estão com mata-burros instalados, facilitando a chegada e evitando que alguma porteira mal fechada permita a fuga do gado. De madeira grossa de eucalipto vermelho ou de aço de velhos trilhos de trem, cada mata-burro tem uma característica, um elemento que o diferencia de todos os outros, o que os torna interessantes e identificáveis, como o tipo de fechamento lateral das cercas, que pode ser mais ou menos elaborado com a utilização de pedra, arame ou madeira ou o polimento dos trilhos e desgaste dos troncos que mostram o caminho preferencial dos pneus de carros, tratores e ônibus que se utilizam deles.

Mata-burro de madeira com cancela para passagens de cavalos

O mata-burro facilitou a minha vida, assim como a de todos que se utilizam destas estradas que vem ao coração do vale do Rio Silveira ou ao Topo do Rio Grande. Um dia eu parei o carro antes da passagem de um deles e desci, como fazia antes quando havia porteira. Olhei para a estrutura ali deitada sobre apoios de cimento e percebi que o mata-burro é, na verdade, uma porteira que cansou de abrir e fechar e resolveu se deitar, oferecendo suas costas para que passem tranquilos enquanto ela descansa vendo o movimento.

Detalhes de um mata-burro de aço e a razão do medo do gado em atravessar a estrutura

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