Blog Lagoa do Peixe

Os grandes movimentos

Bando de flamingos nas águas rasas da Lago do Peixe

Migrações são movimentos voluntários de espécies animais em busca de novos lugares para povoarem, para se reproduzirem ou para simplesmente descansarem e se alimentar. Aqui na Lagoa do Peixe, em Mostardas, é um destes locais onde muitas aves utilizam para descanso, alimentação e reprodução. Uma das espécies mais emblemáticas daqui é o maçarico-do-peito-vermelho, pequena ave que desafia a lógica dos deslocamentos e constrange os sedentários. Todos os anos elas executam, sempre em bandos, um trajeto de 32 mil quilômetros sobre o continente americano e o oceano Atlântico. Agora, na primavera, elas estão aqui na lagoa do Peixe para descansarem do período reprodutivo que tiveram nas geladas terras do Ártico Canadense. Indivíduos anelados e acompanhados, mostram que esta viagem se repete sistematicamente por até dezenas de anos por um mesmo indivíduo. Fico pensando na possibilidade de alguns mamíferos fazerem isso e vejo que sim, já fizeram e atravessaram o mundo. Falo da nossa espécie que, não voando, mas caminhando e navegando cruzamos o planeta de lesta a oeste, de norte a sul. Mas isso em milhares de anos. 

Bando de trinta-reis no litoral, perto da brra da Lagoa do Peixe

Outra ave típica da lagoa nesta época é o flamingo, belíssimo animal de grande porte, pernas longas para poder se mover em segurança nos banhados e charcos, é um exemplo de migração mais restrita. Vi flamingos em lagos andinos no Chile, lá no deserto do Atacama e perto da Terra do Fogo, em lagos rasos em El Calafate. Elas migram atrás de lugares seguros para acasalarem e criarem seus filhotes e aqui é um destes sítios.

A sina de ter que migrar todos os anos torna a vida destas aves menos previsível, menos aborrecida e nada parecida com a de um sabiá-laranjeira ou de um tico-tico que nasce, cresce e morre nas nossas praças ou jardins. Passar a vida inteira voando ou surfando as correntes aéreas parece ser uma boa alternativa à vida sedentária e nascer no Canadá, no distante hemisfério norte e passar a primavera e o verão nas terras austrais da Patagônia argentina, parece bem emocionante. As escalas das viagens também são bem interessantes, passando pela Lagoa do Peixe e Taim, como fazemos numa viagem de carro até Garopaba, quando paramos no Becker para um lanche e descanso. Tudo na sua escala, mas com o mesmo objetivo.

Pequeno bando de maçarico-do-peoto-vermelho, com a coloração de repouso.

Fico impressionado com os bandos de Trinta-réis, com dezenas e até centenas de indivíduos sincronizados em voos pelos baixios ou no litoral, próximo da barra da Lagoa. Aqui, nesta primavera e verão, estes bandos permanecem para descanso e alimentação, seguindo no outono para o hemisfério norte onde fazem sua estação de cria.

O talhamar com seu longo bico característico

São dezenas de espécies que se abastecem do supermercado da Lagoa do Peixe, com suas iguarias frescas e sempre renovadas, ora vindas do mar, como os camarões, ora geradas ali mesmo nas águas rasas e quentes da Lagoa. Durante minha permanência na Lagoa do Peixe, vi muitos “caçadores” modernos de aves, com seus equipamentos fotográficos caríssimos e suas roupas camufladas, decididos a capturar detalhes das diversas espécies que aqui se exibem em abundância. Também vi ONGS e técnicos do governo promovendo e mostrando para alunos e interessados a diversidade da fauna e a importância da lagoa que faz parte do município de Mostardas. Tudo isso durante o já famoso Festival internacional de Aves Migratórias que ocorre sempre nesta época. Muita informação e discussões sobre o tema migrações, muito envolvimento de crianças com diversas atividades lúdicas com as espécies migratórias e, principalmente, destacando a importância daquela grande, estreita e rasa lagoa que mora nas areias do seu município e se estica até a vizinha Tavares.

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